Mike Nichols terminou a carreira da mesma forma como a iniciou: seus dois últimos filmes, Closer (2004) e Jogos do Poder (2007), foram (quase) tão bem-sucedidos quanto os dois primeiros, que apresentaram suas credenciais como um dos principais cineastas de Hollywood na década de 1960: os inesquecíveis Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966) e A Primeira Noite de um Homem (1967).
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Vale lembrar que, cerca de 50 anos atrás, o cinema norte-americano vivia uma fase de transição, entre sua Era de Ouro e o renascimento na virada para a década de 1970, observando de longe o triunfo do cinema de autor europeu a partir do neorrealismo italiano e da Nouvelle Vague francesa. Quem Tem Medo de Virginia Woolf? e A Primeira Noite de um Homem são dois marcos históricos. Juntamente com títulos como No Calor da Noite e Bonnie & Clyde, ambos de 1967, compõem o que seria posteriormente classificado pelos críticos e pesquisadores como o início da virada do jogo a favor de Hollywood.
É comum, hoje, ver A Primeira Noite de um Homem em listas dos melhores filmes do século 20, mas o impacto de sua estreia, com Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, é incomparável. Com 34 anos à época das filmagens (não se pode dizer que tenha sido um diretor precoce), Nichols dirige o casal Elizabeth Taylor e Richard Burton com o pulso de um veterano, acompanhando com câmera sóbria as explosões de fúria da dupla, que trouxe para a trama sobre um casamento em crise a sua própria intimidade - ambos iniciaram relacionamento poucos anos antes, quando fizeram juntos o clássico Cleópatra (1963).
Mike Nichols ainda faria outros filmes de sucesso (Silkwood, Ânsia de Amar, Uma Secretária de Futuro), saindo-se invariavelmente melhor ao exercitar um estilo econômico, que se comunicava com o público a partir de detalhes tanto de texto quanto de imagem. Não sentia necessidade de ser reiterativo ou exagerado - exemplo tantas vezes deixado de lado nestes tempos de obsessão por atingir a maior fatia possível do mercado. Era de uma estirpe que anda em falta: a dos cineastas que não subestimam a inteligência dos espectadores.