Damián Szifrón garante que o acaso está na gênese de Relatos Selvagens, filme argentino que estreia nesta quinta-feira Brasil no embalo da aclamada recepção no Festival de Cannes e do imenso sucesso de público em seu país - somou mais de 3 milhões de espectadores, número raro para o circuito local. Representante da Argentina na disputa por uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro, Relatos Selvagens reúne seis histórias curtas com pessoas vivendo situações-limite que deságuam em um irrefreável sentimento de desforra.
- Cheguei a esse filme de forma involuntária, enquanto exercitava argumentos para novas histórias - diz Szifrón, em entrevista a ZH. - Nunca pensei em fazer um longa no formato de antologia, mas percebi que as histórias que escrevi para me divertir, desconectadas entre si, tinham essa interessante ligação temática.
Se o imponderável acendeu a fagulha criativa do diretor, e o elenco formado por talentosos nomes do cinema argentino - entre eles, Ricardo Darín e Darío Grandinetti - é um forte atrativo, a exitosa realização de Relatos Selvagens decorre de um somatório de acertos. O mais notável talvez seja a unidade narrativa do diversificado conjunto, pouco comum em projetos nesse formato, fruto de roteiros lapidados que fazem cada história atingir a força máxima rumo ao clímax.
Nos seis segmentos, Relatos Selvagens apresenta uma diversidade de tipos, situações e gêneros: passageiros de avião descobrem ter ligação com um rapaz que prejudicaram no passado; garçonete reconhece que o cliente grosseiro é o homem que arruinou sua família; dono de carrão e motorista de uma lata velha discutem em estrada deserta; engenheiro especialista em implosões (Darín) acha injustas as multas que leva; milionário tenta colocar um falso culpado em cena de atropelamento; noiva descobre, na festa de casamento, que o noivo é um pilantra.
Trabalhar sobre a linha tênue que separa civilização e barbárie com pitadas de humor negro, flertando com o fantástico, o suspense, o road movie e o melodrama, fez Relatos Selvagens chamar a atenção de Pedro Almodóvar. O cineasta espanhol, junto com seu irmão Augustín, assegurou a produção do longa assim que leu o roteiro de Szifrón.
Conhecido por filmes como O Fundo do Mar (2003) e Tempo de Valentes (2005), Szifrón se destaca na Argentina também à frente seriados de TV que circulam em toda a América Latina, como Os Simuladores (2008)
- Não há fórmula mágica para criar um sucesso de público e também de crítica - afirma o diretor. - O importante é trabalhar com liberdade antes de pensar na reação dos outros. A TV nos permite uma comunicação mais imediata com a reação do público, nela podemos trabalhar histórias de maior duração, impossíveis de desenvolver no cinema. Mas já é uma discussão velha falar se um veículo é superior a outro. A TV nos permite trabalhar histórias de maior duração, impossíveis de desenvolver no no cinema. Veja o caso do protagonista do seriado Mad Men, que vive uma odisseia como a de Ulisses.
Mais Darín nas telas
O fato de sua foto no cartaz de um filme, mesmo quando não é o protagonista, ser chamariz de público mostra o quanto Ricardo Darín consolidou seu nome como astro do cinema latino-americano.
- Ainda em 2014, no dia 27 de novembro chega ao Brasil outro bom filme estrelado pelo ator de 57 anos. No suspense Sétimo (2013), de Patxi Amezcua, Darín vive um pai que busca pelos filhos pequenos desaparecidos misteriosamente dentro do prédio onde vivem.
- O fator Darín faz com que as distribuidoras nacionais busquem abastecer o circuito com trabalhos seus mais antigos, exemplo de O que os Homens Falam (2012), comédia espanhola de Cesc Gay ainda em cartaz em Porto Alegre.
- Darín reforça seu prestígio também na Espanha - está rodando outra comédia com Cesc Gay, Truman, prevista para 2015.
- Tem ainda a sua participação na série de TV colombiana Blanco o Negro, Nunca Gris, dain sem previsão de estreia.