Na inquietude que a fez viver de idas e vindas entre Porto Alegre, São Paulo, Tiradentes e Rio, Maria Lídia Magliani (1946 - 2012) levou sua obra a diferentes lugares. Uma iniciativa que busca mapear a produção da artista pelotense no país poderá não só documentar o conjunto de seu trabalho, mas reinserir na cena nacional um dos grandes nomes da arte gaúcha.
Entre os pares de sua geração, Magliani alcançou projeção no país como poucos, sendo apontada entre as promessas da arte brasileira: nos anos 1980, radicada em São Paulo, a artista teve inserção no mercado e participou da Bienal daquela cidade. Magliani morreu no Rio, onde vivia desde o fim dos anos 1990. Na etapa final da vida, estabeleceu parceria com outro gaúcho, o artista Julio Castro. Dividindo ateliê no bairro Santa Tereza, Castro acompanhou a produção derradeira de Magliani. E, agora, é o responsável pela catalogação da obra da artista.
- Nesse tempo de convivência, passei a organizar e a documentar sua obra. Depois da morte, inventariei o que ela deixou no ateliê e passei a mapear obras em coleções particulares e públicas pelo Brasil - diz Castro, que estará na Capital entre os dias 18 e 22, dando sequência a sua pesquisa.
Com autorização da família de Magliani, Castro é, desde setembro de 2013, o organizador oficial da obra da artista. Seu objetivo é criar um centro de referência para a divulgação do legado da pelotense. Por enquanto, o endereço www.estudiodezenove.com/projeto-magliani.html reúne cronologia, algumas entrevistas e textos críticos. A primeira iniciativa de fôlego será a catalogação das gravuras em um projeto orçado em R$ 50 mil, que foi aprovado pelo Fumproarte nesta segunda e resultará em livro e exposição. Será o início de um mapeamento que, nas etapas futuras, envolverá também pinturas, esculturas e ilustrações.
- Ela produziu muito, não sei se conseguiremos reunir tudo. Mas creio que seja possível alcançar uma abrangência. Quando tivermos um conjunto representativo, poderemos começar a mostrá-lo. Paralelamente, faço uma pesquisa sobre a trajetória dela, os lugares onde morou e como pautava o trabalho - conta Castro.
A iniciativa será um impulso para o processo de institucionalização da obra de Magliani.
- Esse trabalho de catalogação será oportuno, tendo em perspectiva o legado da artista: uma obra consistente, altamente pessoal e digna - diz o marchand Renato Rosa, amigo da artista desde os anos 1960. - Será uma tarefa hercúlea, principalmente pela busca de trabalhos do início da carreira.
Rosa organizou a única homenagem que Magliani recebeu em Porto Alegre depois de sua morte. Foi a mostra A Solidão do Corpo, que apresentou, na Pinacoteca Aldo Locatelli do Paço Municipal, no ano passado, mais de 150 obras de acervos e coleções.
Saiba mais sobre a artista:
-->Maria Lídia Magliani nasceu em Pelotas, em 1946.
--> Na Porto Alegre dos anos 1960, teve aulas com Ado Malagoli e integrou a cena artística da cidade.
--> Formou-se em Artes Plásticas na UFRGS em 1966, sendo a primeira negra a concluir o curso no Instituto de Artes.
--> Deixou Porto Alegre nos anos 1970 e viveu, entre idas e vindas, em São Paulo, Minas Gerais e Rio.
--> Notabilizou-se no país como pintora. Sua obra, de viés expressionista, com cores carregadas e pinceladas fortes, é marcada por figuras deformadas.
--> Também fez gravura, desenho e escultura e atuou como atriz, cenógrafa, figurinista, ilustradora e diagramadora - inclusive em ZH.
--> Morreu em 2012, aos 66 anos, vítima de doença cardíaca, no Rio.
Confira mais dois trabalhos de Magliani:
--> Sem Título, 1989 - Vinílica sobre tela
Xilogravura para o Álbum PROCURA-SE, 2012