O velho safado voltará a dar as caras no palco. Autor adaptado recorrentemente no teatro, o norte-americano nascido na Alemanha Charles Bukowski (1920 - 1994) será vivido pelo experiente ator Roberto Oliveira, que também dirigirá a montagem.
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Produção do Depósito de Teatro, companhia que completa 18 anos, Bukowski - Histórias da Vida Subterrânea foi viabilizada com o Prêmio de Incentivo à Pesquisa em Artes Cênicas do Teatro de Arena de Porto Alegre, onde o espetáculo estreia nesta sexta-feira (18/7), às 20h. Em 1988, o escritor havia sido representado por Zé Adão Barbosa na peça Memory Motel, com direção de Humberto Vieira, atuação que valeu um Prêmio Açorianos.
Não é difícil entender o contínuo apelo do autor. Com uma literatura fortemente autobiográfica, em que figuram relatos de teor sexual, pontuados por uma visão cínica do mundo e muita bebedeira, Bukowski segue lido pelas novas gerações. A editora L&PM já vendeu 500 mil exemplares de seus livros em cinco anos e planeja novos títulos. No segundo semestre, será lançada a Miscelânea Septuagenária, com poemas, contos e outros textos. Entre o final do ano e o início de 2015, virão duas antologias de poesia: Burning in Water, Drowning in Flame e The People Look Like Flowers at Last (ambas ainda sem título em português).
Baseada em diversas obras assinadas por Bukowski, especialmente o romance Mulheres, a peça do Depósito de Teatro se debruça sobre a biografia do autor e de seu alter ego Henry Chinaski, com foco nas relações turbulentas com grandes amores, interpretados por Aline Armani Picetti, Elisa Heidrich, Francine Kliemann e Pitti Sgarbi. Marcelo Johann completa o elenco. Fã do autor desde a juventude, Roberto Oliveira acalenta o projeto há mais de 20 anos:
- Bukowski sempre dizia que sua literatura é autobiográfica, não tínhamos como escapar desse foco. Pegamos suas grandes paixões e as colocamos em cena. Mas hoje não sabemos a que ponto seus relatos são 100% verdadeiros ou não.
Para 2015, o Depósito de Teatro cogita voltar a alugar uma sede, como fez no passado. Desde 2009, a companhia ocupa uma sala na Usina do Gasômetro dentro do projeto Usina das Artes. Os próximos trabalhos serão para o público infantil: um deles voltado para o uso consciente da água e outro inspirado em Alice no País das Maravilhas.
Assista a trecho de ensaio da peça e entrevista com Roberto Oliveira:
Por que ler Bukowski
Por Carlos André Moreira (carlos.moreira@zerohora.com.br)
1) Ternura - esqueça os aspectos superficiais de sexo desesperado e bebedeira (tem muito imitador que fica só nisso). Charles Bukowski tratou com dignidade única os derrotados, muitas vezes olhados de cima por outros escritores ou transformados em metáforas para romance de tese.
2) Humor - mesmo nos ambientes e episódios mais sórdidos, Bukowski estrutura, com uma prosa ágil, grandes cenas cômicas, do nonsense à sátira.
3) Resiliência - muito da poesia de Bukowski é um brado de teimosia contra o caos e a morte, que virão e inevitavelmente levarão a melhor. Mas não é por isso que devemos deixar de combatê-los.
4) Franqueza - Bukowski é o beatnik que chegou tarde demais para a festa, quando todo mundo estava já meio maluco e não havia mais beleza ao fim da estrada. Assim, ele não se retrata como um "vagabundo iluminado", e sim como um refugo insistente fazendo o que pode, como todos à sua volta.
5) Sexo desesperado e bebedeira - Sim, tem isso também, já que você insiste.
Velho safado
Depósito de Teatro estreia peça sobre Charles Bukowski e suas mulheres
Estrelado e dirigido por Roberto Oliveira, "Bukowski - Histórias da Vida Subterrânea" estará em cartaz no Teatro de Arena de Porto Alegre
Fábio Prikladnicki
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