Mário Röhnelt é observado por ele mesmo enquanto caminha pelo Margs. Está diante de uma série de trabalhos dos anos 1970 e 80 nos quais retratou a si mesmo, confrontando cenas de intimidade e da sociedade de consumo, em desenhos de cores vibrantes, como uma pop art melancólica.
- Minha formação se deu no período da ditadura. Me considero fruto daquela época, de todos os problemas de viver em uma sociedade regulada autoritariamente - conta Mário.
É o reencontro do artista com sua trajetória de quatro décadas que marca a exposição Uma Retrospectiva, com abertura neste sábado, às 10h30min, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). Dando sequência às retrospectivas individuais que o museu passou a apresentar neste ano, esta é a primeira extensa mostra dedicada a Mário, 63 anos, um dos artistas gaúchos mais importantes da geração 70/80.
- Mário é uma pessoa influente e marcante na vida intelectual e artística da cidade. Se tivesse produzido sua obra no Rio ou em São Paulo, seria reconhecido como um dos grandes artistas brasileiros - comenta José Francisco Alves, curador da exposição.
"Autorretrato" (1979), grafite e lápis de cera sobre papel
Foram reunidas quase 200 obras no segundo andar do Margs. Em cada uma das quatro salas, são apresentadas fases distintas do artista, oferecendo ao visitante a oportunidade de conhecer o caminho que Mário trilhou. O momento inicial dos anos 1970 conta com um conjunto de desenhos coloridos de extremo apuro, voltados à figura humana e baseados em fotografias, linguagem que se difundia entre os artistas do período. É a fase mais emblemática de Mário, reflexo do convívio artístico coletivo quando integrava o célebre grupo KVHR com Milton Kurtz, Julio Viega e Paulo Haeser. Na década seguinte, os quatro fariam parte de outro momento histórico ao se unir a integrantes do grupo Nervo Óptico para integrar o Espaço N.O. na Galeria Chaves, que divulgou a arte experimental em Porto Alegre.
Em outra sala do Margs, é possível conhecer a obra que Mário realizou nos anos 1980, quando seguiu dedicado às cores, mas voltado à pintura.
- Mário trabalha com uma série de camadas, antecipando a lógica que chegaria com a introdução da informática nas artes gráficas. Mas, na época, não existia o Photoshop, por exemplo - diz o curador.
Está representado na exposição o momento de ruptura nos anos 1990. Mário aboliu totalmente a cor e passou a pintar quadros em preto e branco. Ele usava imagens de revistas para compor cenários como se trabalhasse com o negativo e o positivo da fotografia:
- Desde o início, a fotografia me interessou para fazer algum tipo de colagem. Sempre usei fotos que eu e pessoas próximas faziam ou me apropriei de imagens de periódicos.
Uma Retrospectiva ainda apresenta o trabalho mais recente de Mário. É um segmento do Projeto Giotto, série deste ano na qual o artista interpreta cenários das pinturas religiosas do pré-renascentista Giotto di Bondone realizadas entre os séculos 13 e 14.
- São desenhos ou pinturas digitais que começaram como uma brincadeira. É uma interpretação pessoal que permite que se observe o nascimento do espaço perspectivo, que vai ser o mote do Renascimento - diz Mário.
Mário Röhnelt - Uma Retrospectiva
> Abertura neste sábado, às 10h30min. Visitação até 1º de junho, de terça a domingo, das 10h às 19h. Entrada franca.
> Margs (Praça da Alfândega, s/nº), em Porto Alegre, fone (51) 3227-2311.
> A exposição: apresenta os 40 anos de produção do artista Mário Röhnelt em quatro salas do segundo andar do Margs, contemplando as diferentes fases.
> Preste atenção: Na forma como a fotografia influencia o desenho do artista e como ele se apropria das pinturas de Giotto.