Entre os cantores italianos com pinta de galã que fizeram sucesso nos anos 1950 e 1960, o calabrês Rocco Granata não foi propriamente um grande astro mundial, mas tem uma trajetória das mais peculiares - sua carreira teve início na Bélgica, país sem maior tradição no universo da música pop. Sua história é contada na cinebiografia Marina, uma das estreias da semana na Capital.
Nas mãos do diretor belga Stijn Coninx, o filme resultou num registro de elevado tom melodramático, com personagens arquetípicos à frente de um agridoce folhetim em torno de temas como privação, perseverança e, enfim, superação.
A trama tem início quando a família Granata deixa a região da Calábria, em 1948, por conta do trabalho do patriarca, Salvatore (Luigi Lo Cascio), em uma mina de carvão na Bélgica - essa foi a opção de muitos italianos sem perspectiva de emprego em seu país após a II Guerra. Os primeiros tempos dos Granata em terra estrangeira são duros, diante do preconceito social e da dificuldade com o idioma flamengo.
Salvatore quer evitar que Rocco (vivido em sua juventude por Matteo Simoni) siga seus passos na lida insalubre e também rejeita que o rapaz faço uso da aptidão musical para além do hobby. Esse conflito entre pai e filho tensiona a rotina doméstica e coloca a figura da mãe, encarnação da mamma calorosa e afetiva, se interpondo entre a autoridade do marido e o sonho romântico do primogênito.
Rocco ainda vive um romance proibido com uma menina belga que namora o playboy local. Ela, Helena (Evelien Bosmans), além de incentivar o jovem músico a participar de um show de talentos é a musa inspiradora da canção que faria dele um astro, Marina, gravada em um compacto junto com Manuela, em 1959. O disco não teve maior repercussão de imediato, mas quando Rocco estava prestes a desistir da vida musical para ajudar a família, Marina estoura nas rádios belgas e alemãs e o leva a uma consagradora apresentação nos EUA.
Rocco, que faz uma ponta em Marina como dono de uma loja de instrumentos musicais, teve como figura inspiradora o cantor e ator americano com sangue italiano Dean Martin (Dino Paul Crocetti era seu nome real), grande astro naquela época. Em plena explosão do rocknroll que cindiria as gerações seguintes ao colocar pais e filhos em campos opostos no gosto musical, artistas como eles faziam da música pop um programa para toda a família ao pé do rádio.
Porém, até mesmo o panorama musical da época tem pouco relevo na trama, que, curiosamente, elenca entre seus produtores os celebrados e premiados irmãos cineastas belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne. Sobre temas que perpassam o enredo de Marina, como as tensões decorrentes de desajustes sociais e familiares e as dificuldades de integração vividas pelos imigrantes, a dupla já fez grandes filmes. Não se esperava tanto de Coninx, lógico, mas bem que ele podia ter se esforçado para fazer de Marina um filme mais vibrante e menos convencional.
Trailer do filme
O verdadeiro Rocco Granata cantando Marina
Rocco Granata cantando Marina em 2008