Para Lya Luft, mergulhar nas águas do tempo é tomar ciência do valor da vida. É essa a linha central que atravessa seu novo livro, O Tempo É um Rio que Corre, que ela autografa nesta terça em Porto Alegre.
O volume retoma as incursões da autora no terreno do ensaio de não ficção, ramo de sua obra bastante bem-sucedido comercialmente. O sucesso de Perdas e Ganhos, de 2003, tornou Lya uma autora popular de abrangência nacional - embora seus livros fossem bem recebidos pela crítica antes disso, com o ensaio ela ampliou seu público. Em O Tempo É um Rio que Corre, Lya retoma a forma solta que já havia utilizado em Múltipla Escolha (2010) e alinha recordações e reflexões para discutir a passagem do tempo, intercalando cada capítulo com poemas de sua própria autoria.
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- Meus livros vão se formando muito lentamente, como janelinhas que abrem e se fecham, é um processo interno semiconsciente. Neste livro, o que acabei fazendo foi algo muito pessoal. O que há ali são histórias e considerações minhas, frutos da minha vivência, em um estilo que procurei tornar leve e, às vezes, engraçado, mas emocionado e racional. É uma conversa direta com o leitor - avalia.
O livro se divide em três grandes seções, todas afinadas com a metáfora aquática do título: Águas Mansas, Maré Alta e A Embocadura do Rio, cada uma concernente à passagem do tempo em uma etapa da vida. Em Águas Mansas, Lya escava memórias da infância passada em Santa Cruz - que já havia sido abordada em outro livro pela autora, Mar de Dentro (2000). Em Maré Alta, discute a juventude, tanto a sua quanto a de seus filhos, fazendo um paralelo entre gerações e aproveitando para pensar as mudanças ocorridas no papel social do jovem.
- Vivemos hoje em uma cultura que casa a futilidade com o endeusamento da juventude. Sempre me admiro dos lapsos de linguagem de quem, com mais idade, diz "no meu tempo", e este tempo é sempre a juventude. Como se, depois de mais velho, você ficasse tão despossuído que nem o tempo tem mais. Quando, na verdade, como digo no livro, ser jovem também não é fácil. Isso é o que mais me deixa perplexa, o terror da velhice e o endeusamento da juventude - diz a autora.
O terço final, A Embocadura do Rio, encara a morte não apenas como tema literário - algo que Lya já fez em seus romances de opressiva carga psicológica -, mas como o horizonte da vida. Aqui também a autora se vale de perdas pessoais e de sua própria concepção da finitude.
- Há algum tempo, fui a uma universidade falar com um rapaz que estava trabalhando com um livro meu, e ele, ao falar do livro, me providenciou uma revelação de mim mesma. Ele disse: "A senhora não segue um fio, segue por elipses". E é assim mesmo, eu nunca raciocino muito sobre o meu trabalho. Quero tentar incluir ali as sensações e as coisas que vou capturando ao olhar o mundo - comenta.
O TEMPO É UM RIO QUE CORRE - LYA LUFT
Ensaio. Editora Record, 144 páginas, R$ 28.
Sessão de autógrafos nesta terça, às 19h.
Livraria Cultura do Bourbon Country (Túlio de Rose, 80), em Porto Alegre, fone (51) 3028-4033.
Onde estacionar: o shopping tem estacionamento próprio, ao preço de R$ 7 a cada seis horas (carros) e R$ 2,50 (tarifa única para motos).
O livro: misto de ensaio e memória no qual Lya Luft reflete sobre a passagem do tempo, associado com a descoberta da mortalidade e a perda da inocência atemporal da infância.