Envelhecer não é fácil para ninguém. No caso de bandas de rock, o avançar da idade é ainda pior, porque levam-nas a uma cruel e inevitável encruzilhada: se reinventar e correr o risco de perder seu público ou continuar fazendo a mesma coisa e soar datada. Os Raimundos, que completam duas décadas de estrada este ano, escolheram a segunda alternativa em Cantigas de Roda - e não dá para culpá-los por isso.
O álbum, o primeiro de inéditas desde o esquecível Kavookavala (2002), fica entre Lavô Tá Novo (1995) e Só no Forevis (1999). Mistura hardcore com ritmos regionais do Nordeste, reggae e ska com letras debochadas (e algo confusas) que falam sobre sexo (Baculejo, Cera Quente, Importada do Interior), drogas (Dubmundos) e rock'n'roll (Nó Suíno, BOP).
Ou seja, Cantigas... é voltado para o público adolescente e/ou saudosista de uma época em que o rock não tinha vergonha de cantar sobre experiências sexuais em cabarés de reputação duvidosa e consumo de cigarros de procedência desconhecida. Um público que não só bancou o disco, através de uma ação de financiamento coletivo que arrecadou mais do que o dobro pedido, como vem mantendo o Raimundos vivo desde a saída do vocalista Rodolfo, em 2001.
Mas se você não faz parte dessa audiência - e bateu cabeça suficientemente com a banda nos anos 1990 -, Cantigas... é um imenso e enfadonho déjà vu. Você já ouviu aquela levada de BOP em Andar na Pedra, Gato da Rosinha foi decalcada de Rio das Pedras, Cera Quente lembra demais A Mais Pedida e Gordelícia repete o ska de Me Lambe. Além de tudo, soa estranhamente ofensivo: porque em 1995, quando você tinha 14 anos, uma letra que dizia "Ela gosta de saco grande porque, quando balança, enche o cu de terra" não parecia assim tão ruim. Só que hoje, ouvir Digão cantando "O cheiro de rabo que a maresia traz / Uma bundinha a milanesa é o que nos satisfaz" soa no mínimo deslocado - para não dizer de mau gosto. Mas foi o caminho que a banda escolheu. E não dá para culpá-los por isso.