Respeitável público, El Gran Circo Mexicano chegou em Aceguá.
Palhaços batem tambores. Latem cuscos e saltam malabaristas.
Desfilam pelas ruas domadores, acrobatas e coristas.
O álacre cortejo passa pela Casa Perez.
Qual tartarugas põem a cabeça para fora do casco, famílias caseiras vêm para as janelas. A vida agora é um espetáculo.
Caminhonetes alegorizadas anunciam Silk, o maior faquir das Índias Orientais.
A cada noite, maior o público.
Entra Silk com sua capa preta de mórbidos adereços de velas e caveiras.
Entre volteios esvoaçantes, mergulha Silk em seu jazigo.
O túmulo improvisado é coberto com serragem.
Um tapete roxo sobre o fúnebre espaço.
A corista de meias rendadas, montada num tordilho ornamental, circula pelo picadeiro.
Domina o côncavo espaço circular um clima de suspiros lancinantes, lúgubres silêncios, sufoco.
A saída de Silk dos subterrâneos da morte é triunfal.
Porém, um dia, Silk, o faquir, apaixona-se pela filha do protético municipal e se manda para lugar incerto e não sabido.
O circo pegou goteira e solidão. Sem o faquir, mirrava a olhos vistos.
"De onde menos se espera, daí mesmo que não sai nada", dizia o Barão.
Lá pelas tantas, Fagundino alardeou que bem conhecia os meandros e canudinhos do debandado faquir amoroso.
Não deu outra, El Gran Circo Mexicano resplandece.
Manto, cova, caixão, serragem, tapete, bandinha. O passado reluz com a mesma luminosidade.
Fagundino assume o túmulo.
Na terceira volta ao picadeiro, entre sorrisos e beijos da ruiva equestre, o cavalo se empina e relincha exatamente em cima do corpo do sepulto Fagundino.
Lá do fundo das galeras, o Velho Maragato se pôs de pé e gritou:
- El hombre está muerto!
O faquir improvisado tinha tomado o partido do além. Para ingressar no paraíso, tiveram de tirar serragem de suas orelhas.
A noite terminou na gendarmeria para uma averiguação de las responsabilidades.
A autoridade uruguaia advertia:
- Para la justicia de nuestro país si uno no es culpable, todos los son.