O escritor alemão Ingo Schulze e seus livros parecem retornar com frequência ao ponto que ele considera definidor do atual momento histórico: o fim do comunismo entre as décadas de 1980 e 1990. É esse o cenário de seu monumental romance Vidas Novas, lançado no Brasil em 2010, e também o pano de fundo de Adam e Evelyn, romance de 2008 que está saindo agora por aqui.
Schulze autografa Adam e Evelyn neste sábado, às 20h. Se Vidas Novas era a narrativa de longa corrupção pessoal de um ex-militante comunista que se torna um rico capitalista aproveitando as oportunidades abertas após à queda da Alemanha Oriental, Adam e Evelyn apresenta, em tom que não foge do picaresco, os desacordos de um casal em crise que, em viagem pela Hungria em 1989, é colhido pelas mudanças abruptas do comunismo. Embora não se diga saudoso do comunismo, Schulze argumenta que esse período pautou a situação atual do mundo.
- Foi quando houve a economização das relações internacionais e deixou-se de lado a discussão de uma alternativa ao capitalismo de mercado. Com a crise de 2008, vimos em todo o mundo jovens exigindo novas condições de vida, focadas em mais justiça e menos em dinheiro - comenta Schulze, em entrevista realizada no Café do Margs.
Adão e Eva contemporâneos
Assim como o romance Vidas Novas era uma forma de reler o Fausto no contexto da reunificação, em Adam e Evelyn o próprio título denuncia um novo modelo mítico: Adão e Eva. As transformações que se realizam à volta do casal, envolvido com seus próprios problemas amorosos, assemelham-se a um contemporâneo fim da inocência edênica de um regime centralizador e tutelar, para o " em da não a que P 2008:< de baque ao sobreviveu melhor Europa economia sido tendo mesmo Alemanha, poupa crise rumos dos respeito Schulze discurso O agressiva. parece consumista desperdício do regra capitalista?, paraíso>
- A Alemanha tem sua parte de responsabilidade pela crise europeia, porque achatou os salários e reduziu os contratos coletivos para manter alto o nível das exportações, gerando empobrecimento.
Natural da Alemanha Oriental, Schulze só começou a escrever após a queda do Muro de Berlim, e neste sábado é um dos autores alemães mais conhecidos - em sua geração, frise-se, já que, aos 50 anos, ele é bem mais novo do que os Nobel Günther Grasse e Elfriede Jelinek, por exemplo, ou que o best-seller Bernhard Schlink. Ele também não é um visitante novato no Brasil: já veio ao país diversas vezes - em Porto Alegre, esteve em 2002, para lançar Histórias Simples da Alemanha Oriental.
Há anos Schulze vem trabalhando em uma espécie de continuação de Vidas Novas, que terá parte substancial de sua trama ambientada em Manaus, para onde viajou para pesquisar o fenômeno da Terra Preta, um solo escuro e fértil criado, segundo teorias, por uma combinação de materiais executada pelos índios.
- Alguns cientistas veem o fenômeno como a chave para a questão dos resíduos e da contaminação do ambiente. É interessante que os descendentes dos povos que dizimaram muitas dessas tribos voltem-se para o espólio dessas culturas - diz.