Há milhões de Chicos por aí, mas, se você mencionar o mais comum e popular dos apelidos brasileiros em público, muito provavelmente não será preciso acrescentar o Buarque. Você estará falando, é claro, definitivamente, dele.
Não há outro Chico tão dentro de nossas vidas como o maior poeta da história da MPB. Chico é o Chico, assim como o Professor é o Professor.
O livro Ruy de Todas as Copas, que será lançado hoje, às 17h, na Feira do Livro, bem podia se chamar apenas Professor. Ou Ruy. A rigor, bastaria. Todos saberiam de quem se trata e do que se trata: o futebol em outra dimensão, como se fosse uma porta para entender o mundo e suas relações infinitas. Mas 2014 está aí, então a RBS Publicações teve a ideia de juntar estes dois eventos: o Ruy e a Copa do Mundo. A conclusão é que eles foram feitos um para o outro.
Há décadas, os gaúchos convivem com as várias facetas do jornalista, professor e escritor Ruy Carlos Ostermann, todas elas traduzidas no bom texto ou no comentário com verbos aparentemente fora do lugar, mas que, na verdade, tinham mesmo de estar ali. Como ninguém tinha pensado neles antes? Faltava quem os arriscasse, quem nos abrisse outras portas de análise e de percepção do universo do futebol, para muito além daquela substituição no segundo tempo, do erro de arbitragem ou da campanha contra o técnico de plantão.
Organizado por Renato Mendonça e editado por Pedro Haase Filho, a obra é parte de um projeto multimídia. Ao longo de 2013, em várias plataformas (Zero Hora, portal ZH.com e TVCOM), Ruy debruçou-se sobre personagens, fatos marcantes, questões táticas, lembranças e bastidores, tendo a Copa como fio condutor. Como esteve em todos os Mundiais desde 1966, sem contar os dois anteriores, dos quais participou na condição de repórter, em Porto Alegre, pode-se imaginar o reino de descobertas em cada uma das 152 páginas de escrita e imagens inéditas, algumas deliciosas, do fundo do baú.
Um papo com Garrincha no vestiário, na Inglaterra. O processo de transformação da Rádio Gaúcha na potência que é hoje, a partir de sua contratação bombástica junto à maior concorrente, a Guaíba, em 1978. Os relatos dos parceiros de andanças pelas ruas de tantas Copas, como Luis Fernando Verissimo. Surpresas, como o dia em que Eduardo Bueno, um craque da comunicação e da espontaneidade com conteúdo, foi ao Sala de Redação levado por Ruy e travou a garganta. Depoimentos de colegas do país inteiro, todos reverenciais e com alguma passagem para contar, que afinal são todos contadores de histórias. Como nasceu A Alma do Penta, obra que escreveu a quatro mãos com Felipão, durante a Copa de 2002.
Ruy de Todas as Copas, como diz o editor de Copa em ZH, Rodrigo Müzell, é um livro do Ruy e para o Ruy. Mas, após sorvê-lo, concluo que é um livro do Professor, assim como as canções do Chico. E, portanto, nosso.
Ruy de Todas as Copas, de Ruy Carlos Ostermann
Memórias, RBS Publicações, 152 páginas, R$ 25 (em média). Lançamento hoje, às 17h, na Praça de Autógrafos