O nome de Ricky Gervais nos créditos é quase uma promessa de humor inteligente e cínico. Mais conhecido no Brasil por ter apresentado o Globo de Ouro entre 2010 e 2012, e por fazer piadas ácidas nem sempre digeridas muito facilmente pelo grande público, o comediante britânico consagrou-se internacionalmente em 2001, com a criação na BBC da série The Office - que mais tarde seria transportada, com grande sucesso, para o universo corporativo americano.O espectador que buscar em Derek, série que chegou em setembro ao cardápio do Netflix, algo parecido com o humor de The Office, porém, vai estranhar muito o registro dessa comédia não exatamente cômica - quase triste, na verdade.
Derek tem como cenário um lar de velhos na Inglaterra. O próprio Ricky Gervais interpreta o protagonista, o doce e ingênuo atendente do asilo que compensa o déficit de inteligência com extremos de carinho e atenção por aqueles velhinhos que esperam a morte jogando damas e assistindo TV. Além de Derek, tocam a instituição a abnegada enfermeira Hannah (Kerry Godliman) e o faz-tudo Dougie (Karl Pinton). A estrutura dos episódios de apenas 23 minutos lembra a de The Office: os personagens falam diretamente para a câmera, como se estivessem em um reality show. De resto, não há grandes acontecimentos além de um jogo na loteria, um passeio até a praia, a morte de um residente.
Derek é provavelmente a mais triste comédia já produzida, com seus velhinhos solitários e funcionários igualmente sem perspectiva - e às vezes até mesmo obrigados a enfrentar a dura rotina de um asilo, já que o lugar recebe condenados que estão cumprindo penas de trabalho comunitário. É comum que nos primeiros episódios o espectador se pergunte por que, raios, está assistindo algo tão deprimente. Aos poucos, porém, vamos embarcando no universo gauche de Derek e seus amigos e na profunda e comovente humanidade dos personagens.