Os jornalistas Mino Carta e Ruy Carlos Ostermann falaram a uma sala Oeste lotada no Santander Cultural na mesa batizada como O Brasil: da morte de Getúlio ao fim da ditadura, na tarde deste domingo.
Carta, que é jornalista, editor, escritor e pintor abordou os temas discutidos em seu livro O Brasil, no qual ele narra, por meio da ficção, a história do jornalismo no país, a "mídia nativa". Entretanto, a obra se passa em lugares verdadeiros e evoca pessoas que realmente existiram.
Carta comentou sobre vários momentos do país, detendo-se no personagem de Getúlio Vargas.
- Getúlio era um ditador, o que eu não gosto nem um pouco. Mas é, do meu ponto de vista, o único estadista brasileiro que tinha um projeto de país, que num tempo de ditadura (1935-45), em um país com trabalho infantil, traz uma lei trabalhista, estabelece o salário mínimo, que aliás valia muito mais do que o salário mínimo atual. Depois de eleito democraticamente, criou a Petrobrás.
Carta ainda fez um paralelo entre a morte de Vargas e a tomada do Brasil pelos militares em 1964:
- Getúlio era um obstáculo a uma minoria que pretendia não mudar nada. A morte de Getúlio é a semente do Golpe de 1964, tanto que logo houve a tentativa de criar condições para que não houvesse eleições.
Para Mino Carta, o golpe militar interrompeu um processo que teria "produzido efeitos muito bons num largo espaço de tempo".
- Haveria sim a criação de um parque industrial forte, importante, e, portanto, o surgimento de um proletariado. A força do proletariado está no fato de que o proletário não quer ser proletário, quer ser burguês. É ali que se fazem as grandes mudanças. Não estou dizendo que o Brasil seria ótimo se virasse um país socialista, mas se virasse um país moderno como viraram os países europeus, porque dispuseram de um proletariado. Isso não aconteceu no Brasil por conta 1964.
Resumindo a sua intenção ao escrever O Brasil, disse que pretendia mostrar como as coisas poderiam ter sido e como foram. O fundador da revista CartaCapital ainda comentou momentos atuais da história brasileira. Disse que não temia a possibilidade de um novo golpe militar e falou das recentes manifestações que varreram o país:
- Vejo indício de que mudanças estão em curso, mas são mudanças que vão se dar muito lentamente, ao meu ver - disse. - Se o povo protesta, eu acho que está certíssimo, me agrada muito, porque ele esta se dando conta de que tem algum tipo de poder, que pode exercer pressão - acrescentou o jornalista.