Então é Natal. Já? Outra vez? Já. Outra vez. Quando criança, olhava o céu imponderável dos dezembros esperando revelações transformadoras. Desde minha inclusão na equipe do Natal Luz de Gramado, Natal pra mim significa trabalho duro o ano inteiro. Mal consigo olhar as nuvens da serra gaúcha. Renas coloridas, anjos de papelão e cucas de mel sorridentes dividem minha atenção com bastidores urgentes e efeitos de luz de última geração. Dia 24, acordo dramático como um personagem de Ibsen. Penso em inventar desculpas para não ir à casa de minha irmã, mas vou, e lá encontro uma ceia que poderia alimentar o bairro inteiro, o disco da Simone, a família de mãos dadas em volta da mesa, uma alegria quase obrigatória a lembrar a paz edulcorada das propagandas da ocasião. Entre doces e salgados, meu coração kantiano, envergonhado, bate feliz.
Coluna
Luciano Alabarse: Entre o sagrado e o profano
Gosto de, ajoelhado em igrejas vazias, pedir bênçãos ao meu Deus inalcançável, ir a casas espíritas fazer oferendas aos orixás regentes do Ano-Novo, vestir camisetas de santos que sangram