Em 1985, o governo do Estado promoveu um concurso literário com o tema "O papel da mulher no período Farroupilha". A partir de pesquisas que se voltaram a esses textos, a historiadora Hilda Flores se dedicou ao tema. Assim surgiu o livro Mulheres na Guerra dos Farrapos, que será autografado hoje, às 17h, na Praça de Autógrafos. Antes, às 15h, a historiadora fará um bate-papo com o público sobre a participação das mulheres no conflito, na Sala Leste do Santander Cultural.
Zero Hora - Por que a atuação das mulheres na Guerra dos Farrapos é negligenciada pela história?
Hilda Flores - É uma questão cultural. O Rio Grande do Sul, terra de fronteira, sempre valorizou o homem como fator da amplidão e da expansão geográfica. Em oposição, o universo existencial feminino por séculos se resumiu ao espaço doméstico, onde a mãe educa os filhos, administra o lar e zela pelo bem-estar do marido-senhor e mantenedor. Da longa guerra civil, foram documentados os combates promovidos a batalhas, os atos heroicos do homem, as decisões do comandante, em oposição ao soldado e à mulher, que permaneceram no esquecimento.
ZH - Quais as mulheres mais importantes da guerra? Que papel elas exerceram?
Hilda - Destacaria algumas. As escravas, com preparo para dezenas de habilidades. As fazendeiras, que, viúvas, tiveram de improvisar para gerenciar suas estâncias. As imigrantes alemãs, que derrubaram o tabu de que trabalho braçal é para escravo. Mulheres da elite, que, ao acudir a seus maridos sitiantes, fizeram um primeiro ensaio do que se poderia chamar de "partido político" feminino em 1837. A imprensa nascedoura traz a primeira jornalista mulher, Maria Josefa Pereira Pinto, com seu semanário Belona. Há também o importante trabalho das professoras pioneiras, que enfrentaram o analfabetismo com suas "aulas" de aprendizado individualizado.
ZH - O que aconteceu com essas mulheres após o conflito?
Hilda - Terminada a guerra, a ruína econômica era enorme. De sorte que as mulheres se inseriram por inteiro na árdua tarefa de reerguer a economia, reorganizar a sociedade e seu lar desmoronado. O cotidiano preservou valores já existentes. Só com a República se pleiteou direito ao voto feminino e ao divórcio.
Mulheres na Guerra dos Farrapos - de Hilda Flores
> História, Martins Livreiro Editora, 135 páginas, R$ 30 (em média)
> Lançamento hoje, às 17h, na Praça de Autógrafos