O historiador britânico Perry Anderson criticou duramente a espionagem americana da Agência Nacional de Segurança e elogiou a busca do Brasil por um novo caminho, independente da influência americana.
Anderson foi o convidado da noite desta segunda-feira no ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento, no Salão de Atos da UFRGS.
Um dos mais conceituados teóricos marxistas contemporâneos, Anderson centrou sua palestra em uma comparação entre a atual concentração de poderes no cenário internacional e uma situação política anterior, o acordo de manutenção de poder esboçado entre 1814 e 1815 no Congresso de Viena, realizado para redesenhar o mapa da Europa após a queda de Napoleão.
- Falarei como historiador, fazendo uma comparação com a história, que nos dirá para onde estamos indo. A coisa mais próxima ao cenário de hoje que podemos encontrar no passado é a ordem política que surgiu na Europa no Congresso de Viena - comentou.
O concerto de nações do século 19 unia cinco grandes potências: Rússia, Prússia, França, Grã-Bretanha e Áustria, preocupadas em evitar novas guerras entre si - no que foi bem-sucedido - avaliou. Para Anderson, a queda do comunismo no fim da Guerra Fria gerou uma nova e semelhante pentarquia: Estados Unidos, Rússia, União Europeia, China e Índia, unidas não pelo medo da guerra, mas pela interdependência econômica provocada pela globalização de mercados.
Nesse concerto de forças, a América Latina - e o Brasil em particular, ocupam uma posição no contrafluxo. A América Latina - e o Brasil em particular, segundo ele - experimentam alternativas com ênfase social ao capitalismo de livre mercado das principais potências. O historiador elogiou as recentes tomadas de posição do Brasil, como o cancelamento da visita da presidente Dilma Rousseff a Washington após a descoberta do escândalo de espionagem da Agência Nacional de Segurança norte-americana.
- O Brasil, apesar de seu tamanho, não é considerado uma potência. Porque não está envolvido em manobras repressivas internas e externas e não é uma potência militar. O país estabeleceu um novo caminho, se opondo e questionando escolhas em conselhos internacionais. E foi o primeiro a cancelar uma visita a Washington após a violação humilhante de sua soberania - elogiou.
O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado pela Braskem e tem o patrocínio de Unimed Porto Alegre, Weinmann Laboratório, Santander, CPFL Energia, Natura e Gerdau, com promoção do Grupo RBS. O projeto conta com a UFRGS como universidade parceira e tem parceria cultural de Unisinos, Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Governo do Rio Grande do Sul. Os passaportes para o Fronteiras do Pensamento estão esgotados. Mais informações no site www.fronteiras.com ou pelo telefone (51) 3019-2326.