Domingo desses, lendo a Revista O Globo, do jornal homônimo, meus olhos se encheram de lágrimas. Lia o depoimento materno sobre o incidente que paralisou um voo da Gol, de Salvador em direção ao Rio de Janeiro. A tripulação simplesmente se recusou a decolar, e o motivo era a presença perturbadora - para eles - de Theo, menino de apenas três anos que nasceu com "epidermólise bolhosa", raríssima doença de pele que precisa vigilância e cuidados permanentes. Mesmo com atestado médico comprovando ser uma doença não transmissível nem contagiosa, não houve argumento que os convencesse. Acontece que, para azar deles, Theo é neto de Deborah Colker, uma das artistas mais importantes da dança brasileira, e que, ao lado do neto no avião, não deixou barato. A companhia vai ser processada, como corresponde. Clara Colker, a mãe do menino, conta que, ao se dar conta do que acompanharia Theo pelo resto da vida, se deu uma única ordem: "Vambora!". Sua luta contra o preconceito em relação à doença do filho é uma lição. Meu choro tinha como trilha um velho CD do Velvet Underground, aquele da capa do Andy Warhol, e a companhia do céu instável de um domingo chuvoso.
Coluna
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