Sócrates foi tão importante na história da filosofia que os pensadores gregos que vieram antes dele são chamados, indistintamente, de pré-socráticos. Conhecemos os ensinamentos de Sócrates por meio de autores como Platão e sabemos que ele dedicou a vida a descobrir a essência da virtude. Ao contrário dos sofistas, que eram grandes retóricos, ele estava em busca da verdade.
É difícil não simpatizar com sua figura. Ele é retratado como um sujeito irresistivelmente perspicaz e irônico nos textos platônicos, que podemos ler como peças de teatro - nada de narração, apenas uma sequência de falas alternadas. Esse método de construir conhecimento a dois é um modelo louvado até hoje. Sócrates desafiou os homens de seu tempo e terminou condenado à morte.
Tendo dito tudo isso em benefício do filósofo, tenho uma confissão a fazer: não acho que os diálogos socráticos sejam uma boa inspiração para nossas conversas contemporâneas. Se me permitem o palpite, não vejo o Sócrates de Platão realmente interessado em criar conhecimento de forma, digamos, colaborativa, para usar uma palavra em voga. Está mais disposto a demonstrar ao interlocutor que ele, Sócrates, é quem está certo.
Em muitos diálogos, as falas dos interlocutores de Sócrates podem ser simplesmente suprimidas. Em um trecho da conversa com Fedro, este emplaca uma sequência de "Sem dúvida", "E muito!", "Perfeitamente" e, novamente, "Sem dúvida" que não fazem lá muita diferença. Os textos estão repletos de momentos assim, faça o teste. Em outra parte, Sócrates fala por mais de 14 páginas. Neste intervalo, convenhamos, daria até para Fedro tirar uma soneca.
Claro que não é sempre fácil assim. Cálicles, outro que debate com Sócrates, é páreo duríssimo. A certa altura, Cálicles declara: "Tu não me persuades absolutamente". E empreende uma série de considerações sobre as posições de Sócrates. Mas a palavra final é do filósofo, em uma fala de oito páginas.
Talvez eu esteja lendo o Sócrates de Platão com a expectativa equivocada. Acredito que devemos ouvir o outro em sua singularidade, aprender com as diferenças e todas essas coisas piegas. Sei que é pitoresco comparar os diálogos socráticos com as nossas conversas do dia a dia, mas os gregos ainda estão incrivelmente perto de nós. E o Sócrates de Platão continua sendo um grande personagem.