Pichações, ferrugem, vandalismo e furtos estão desfigurando obras de arte e monumentos históricos nas áreas públicas de Porto Alegre. Para tentar reverter a deterioração da memória cultural da cidade, a responsabilidade pela manutenção e recuperação desses trabalhos artísticos está sendo transferida da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) para a Secretaria Municipal da Cultura (SMC).
O desafio é enorme: o município ainda não tem nem sequer um diagnóstico unificado sobre a condição física e legal das obras - quais são tombadas ou não, por exemplo.
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Pesquisador e autor de livros sobre o assunto, o professor de escultura do Atelier Livre José Francisco Alves compara o estado em que se encontram estátuas, painéis, bustos e outras formas de arte pública da Capital a uma "situação de guerra", tamanho é o estrago. Praticamente todas as principais obras localizadas na Capital apresentam algum tipo de dano.
Alves acompanha o tema há várias décadas e afirma que a onda de destruição que ainda hoje afoga a beleza urbana teve início nos anos 1990. Ladrões intensificaram o furto de placas e outros materiais de bronze. Em seguida, estimulados pelo cenário de incipiente abandono, pichadores e vândalos completaram o serviço. A falta de uma política eficaz da prefeitura de Porto Alegre para conservar e recuperar esse acervo a céu aberto, ao longo das últimas décadas, completa o cenário que vitima a arte urbana. Mas, para Alves, a sociedade também tem parte dessa culpa:
- Quando cortam uma árvore como aquela (referência ao "furto" de um ligustro duas semanas atrás), ou acontece algo com um cachorro, há uma comoção e vira caso de polícia. As nossas obras de arte estão sendo destruídas e ninguêm vê. Há uma cegueira coletiva na cidade.
Agora, o município promete uma nova estratégia ao repassar o cuidado dessa área para a SMC, que deverá elaborar um plano de ação. O coordenador da Memória Cultural da pasta, Luiz Custódio, afirma que estão sendo catalogados os trabalhos existentes em Porto Alegre com auxílio do livro A Escultura Pública de Porto Alegre, do próprio José Francisco Alves. Serão listadas quais obras são tombadas, quais não são, quais se localizam em áreas tombadas (como a Redenção), por exemplo. Depois disso, deve ser elaborado um projeto de conservação e recuperação.
- Temos muitos problemas de conservação, mas também de vandalismo e danos provocados pela poluição ou pela localização inadequada - avalia Custódio.
Atualmente, são realizados alguns trabalhos de manutenção com apoio do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) e projetos específicos de restauração. A estátua em homenagem a Giuseppe e Anita Garibaldi, na Praça Garibaldi, alvo de pichações, cartazes e fraturas no mármore, deverá ser contemplada. Pelo menos outras três obras, incluindo o Monumento aos Açorianos, devem passar por uma restauração em breve - o que já é muito tarde.
Obras do descaso
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Responsabilidade é transferida da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) para a Secretaria Municipal da Cultura (SMC)
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