Ao longo de uma hora, o intelectual inglês de origem ganense Kwame Anthony Appiah realizou para o Salão de Atos da UFRGS um breve ensaio sobre honra e moralidade em sua palestra desta segunda-feira no Fronteiras do Pensamento.
Em uma fala que foi buscar exemplos no passado histórico, Appiah concluiu pedindo que a audiência imaginasse o que, na atual sociedade brasileira, seria motivo de vergonha para as gerações futuras.
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Appiah começou a palestra recapitulando alguns casos reais do que chama de "Revoluções Morais", e que já relatou no seu livro O Código de Honra. Revoluções morais, para o autor, são mudanças profundas de mentalidade em uma determinada sociedade e que se deflagram em um período muito curto, historicamente. Um exemplo, citado na palestra, foi o abandono pelos chineses da prática milenar de amarrar os pés das meninas - o que garantia obediência e fidelidade, uma vez que os pés deformados impediam qualquer desenvoltura das mulheres.
- A campanha realizada no final do século 19, teve sucesso por se aproximar respeitosamente da cultura chinesa e apelar para a elite ilustrada que comandava a política palaciana, pintando o costume como motivo de vergonha. No período de uma geração, a prática desapareceu.
O sentimento de vergonha nascido de um sentido honra é uma dos grandes motos das revoluções morais, segundo Appiah. Mas essa aproximação deve ser cuidadosa, lembrou ele, principalmente quando a crítica parte de um terceiro.
- Quando alguém de fora critica o modo como você trata suas filhas, você se refugia em uma hostilidade defensiva - comentou.
Appiah pontou sua conferência de um tom otimista, uma vez que, segundo ele, o discernimento moral da sociedade tem evoluído historicamente. Na Idade Média, lembrou ele, multidões achavam natural presenciar decapitações e desmembramentos, assim como a sociedade escravista aceitava a crueldade do sistema como "normal". Mesmo as questões de sexualidade hoje são aceitas mesmo por uma parcela de pessoas mais conservadoras.
E assim ele passou aos elementos que, de acordo com sua visão, serão aqueles que as gerações futuras olharão com o mesmo grau de estranheza que hoje se dedica a essas experiências pretéritas, como o encarceramento em escala industrial, as condições dos presídios. Ou, no caso americano específico, as violações americanas dos direitos humanos em Guantánamo
- Não basta sentir ou identificar que algo está errado. Precisamos nos organizar, criar movimentos, para fazer algo a respeito. É o que devemos fazer, porque o país é nosso e a nossa responsabilidade. E assim, pergunto a vocês, do que as crianças do Brasil sentirão vergonha e perguntarão "o que eles estavam pensando"?
O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado pela Braskem e tem o patrocínio de Unimed Porto Alegre, Weinmann Laboratório, Santander, CPFL Energia, Natura e Gerdau. Promoção Grupo RBS. O projeto conta com a UFRGS como universidade parceira e parceria cultural de Unisinos, Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Governo do Estado do Rio Grande do Sul.