Dylan Moran gosta de começar com uma lamúria.
Recentemente, em dois shows de stand-up, Moran, um comediante internacionalmente popular que tem feito um grande esforço para entrar no mercado americano, começou com uma saudação, depois com um gaguejo angustiado, antes de resmungar a mesma frase: "Eu não sei".
É uma introdução modesta mas, também, calculada. Um sarcástico irlandês cabeludo, Moran, de 41 anos, está estabelecendo um tom e uma persona. Ele é atencioso, ambivalente e levemente tímido em relação a toda a atenção. E, enquanto ele passa a próxima hora, mais ou menos, contando piadas, ele tem mais do que gargalhadas em mente. Ou, ao menos, essa é a imagem que ele projeta antes das frases de efeito.
Em uma apresentação, ano passado, no Theater 80 - um teatro de Manhattan muito menor do que aqueles nos quais ele costumava atuar na Inglaterra, onde ele estourou há doze anos com o seriado "Black Books" - Moran rapidamente recorreu a uma frase sobre sua inabilidade de lidar com o dia a dia: "Os dias são enormes, sabe; eles são longos o suficiente para você se arrepender, e daí você tem que ir dormir."
Ele é um dos comediantes vindos do outro lado do Atlântico neste verão com novos shows. Daniel Kitson, um inglês que conseguiu um público americano através de performances no St. Anns Warehouse, no Brooklyn, e salas alternativas, traz sua última conquista "Depois do começo. Antes do Fim" para o Barrow Street Theater, no dia 7 de julho. Moran está começando sua primeira turnê americana.
Tanto Kitson quanto Moran são altamente verbais, comediantes escrachados que tiveram muito sucesso fazendo stand-up em teatros. Kitson é mais recluso, no entanto, nenhum dos dois se interessa particularmente em usar a internet para fazer piadas. Kitson tem um estilo mais pessoal, enquanto Moran se atém a eventos atuais, gêneros e política nacional. Entretanto, eles compartilham o mesmo modo cambaleante e perdido de fazer a piada.
Em parte, porque eles trabalham em teatros, onde há menos expectativa de frases de efeito rápidas do que em clubes de comédia, eles ficam confortáveis por longos períodos sem uma gargalhada. Essa não é a única diferença cultural. Os comediantes americanos que fazem estágios nos clubes podem ser tão espertos quanto seus colegas do outro lado do Atlântico, mas eles têm menos chances de ostentar isso. Moran, por outro lado, se sai como um malandro de festa, em pé no palco, segurando uma taça de vinho.
O título de seu último show deriva de uma piada do filósofo Sidney Morgenbesser. Um colega disse que por mais que dois negativos resultem em um positivo, dois positivos jamais serão um negativo, e Morgenbesser ofereceu uma resposta sucinta : "É, tá". Esse tipo de referências pretensiosas, obscuras e limítrofes lhe dizem que Moran não está tentando ser um homem comum.
Sua melhor habilidade é criar frases elaboradas cujas metáforas e sequências de adjetivos têm um ritmo propulsor. E suas apresentações de stand-up, normalmente, envolvem um processo no qual ele vai ficando mais animado, falando mais e se soltando. Ele começa como um neurótico silencioso, mas evolui até se transformar em um falastrão perto do final.
Seus primeiros momentos constrangedores são mais convincentes, e sua visão política é geralmente mais afiada quando feita com eufemismo, e não com arrogância. Indagando sobre as mulheres-bomba suicidas islâmicas, ele começa falando alto e então, diz a frase de efeito de lado, de um jeito improvisado:
- Aos homens são prometidas 72 virgens. Mas eu aposto que às mulheres é oferecido algo muito mais modesto: Horários de trabalho flexíveis, creches decentes, algo do tipo.
Suas piadas têm a sensação incoerente de um fio solto, mas há uma estrutura firme que o mantém mudando de tópico para tópico. Ocasionalmente, ele se beneficia de mais tempo pensando em um assunto para ter uma perspectiva mais original. Por mais jovial e erudito que ele possa ser, os fundamentos intelectuais das piadas de Moran são muitas vezes previsíveis e banais.
Os ingleses são emocionalmente reprimidos, os irlandeses são emocionais e os americanos gordos. A esquerda é chata e a direita é cruel. Os camponeses têm a pior vida. Religião é apenas o pânico sobre a morte. Tecnologia é o novo Deus. Uma vez que Moran começa, você tem uma boa ideia de qual será a opinião dele. O suspense é como ele chega lá.
Ao responder "É, tá", ele basicamente faz o mesmo gênero "homens são brutos" de Tim Allen, mas, ao invés de imaginar os homens como primatas grunhindo, ele imita o monstro de Mary Shelley, "Frankenstein" (embora a piada fosse mais engraçada se ele imaginasse as mulheres como criadoras do monstro e não o autor).
Suas espetadas de heavy metal são um ponto chato, mas ao estilo incrementado e indireto de um filósofo de bar.
- Sua aparência é um tipo de argumento, um argumento contra o Darwinismo. O que as pessoas envolvidas estão dizendo é que atração não é necessária para reprodução - diz ele.
No podcast do comediante Marc Maron, Moran ponderou que havia duas abordagens cômicas: A que fala sobre as "coisas da vida" e a que fica bem longe disso. Ele parece entender seu humor como sendo parte da primeira, mas não parece ser nela que ele o encontra.
Além disso, você precisa apenas observar o trabalho brilhante de Kitson para ver que é uma escolha fictícia. Com uma ousadia formal, seu humor pode ser visto como evasivo e discursivo, mas de um jeito que também ilustra a maneira como sua mente trabalha, sem mencionar sua perspectiva filosófica.
Seus shows são baseados no respeito pela complexidade e incerteza. A fórmula passa uma consciência da inabilidade de ter todas as respostas. Em suas evasivas, eu diria, ele ainda capta as coisas da vida.
Em outras palavras, Kitson não nos diz que não sabe. Ele nos mostra.