Com sua pintura densa e dramática, Maria Lídia dos Santos Magliani (1946 - 2012) chegou a ser um dos nomes da arte gaúcha de maior projeção nacional.
Uma oportunidade de revisitar a extensa e singular obra da pelotense morta em dezembro, aos 66 anos, é a exposição Magliani - A Solidão do Corpo.
No Paço Municipal, a sala da Pinacoteca Aldo Locatelli ficou pequena para a reunião de mais de 150 itens, entre telas, gravuras, desenhos, esculturas, catálogos, jornais, manuscritos e objetos pessoais. Já na Sala da Fonte são apresentadas fotos de um ensaio de 1971 no qual Luiz Carlos Felizardo retratou Magliani.
O destaque são as pinturas, recorte maior da exposição e linguagem com a qual ela criou uma assinatura pessoal como parte da geração que fez a ponte entre a arte moderna e a contemporânea no Estado. Sua pincelada livre e gestual, que remete à tradição expressionista, deu origem a séries com figuras humanas deformadas - muitas delas femininas - e objetos cotidianos. São obras densas e gritantes, algumas sombrias, que carregam em si um tanto de dor e desespero, relacionados à biografia da artista. Negra e de origem humilde, Magliani enfrentou, ao longo da vida, as dificuldades de quem manteve uma postura pessoal e artística sem fazer concessões.
- Foi uma mulher destemida, corajosa e, ao mesmo tempo, de uma fragilidade - diz Renato Rosa, curador da exposição.
Amigo de Magliani desde os anos 1960, Rosa foi o responsável por reunir as obras, buscando-as em acervos públicos e coleções privadas. Sua seleção dá conta dos primeiros trabalhos da artista, quando Magliani estudava artes da UFRGS, até os últimos anos de vida, que ela passou em Santa Tereza, no Rio, próxima ao pintor gaúcho Julio Castro.
Na Porto Alegre dos anos 1960, Magliani teve aulas com Ado Malagoli e integrou a efervescente cena artística da cidade - era amiga e musa do escritor Caio Fernando Abreu. Além das artes plásticas, foi também atriz, cenógrafa, figurinista, ilustradora e diagramadora - inclusive em Zero Hora. Nas décadas seguintes, começaria uma inquieta peregrinação de idas e vindas, vivendo entre Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
- E em seu caminho de errância, Magliani nunca deixou de trabalhar - comenta Rosa.
Com o reconhecimento que obteve a partir dos anos 1970, a pintura de Magliani ganhou boa recepção no mercado brasileiro. O ponto alto da carreira da artista se deu em 1985, ao participar da Bienal de São Paulo cuja edição ficou famosa por se dedicar à herança e à retomada da pintura expressionista.
Ainda que tenha se notabilizado por obras com tinta a óleo sobre tela, Magliani também experimentou tinta acrílica e outros materiais sobre papel - defendendo serem pintura e não desenho tais trabalhos.
- Faço as coisas que sei fazer um pouco e tento aprender mais. Nasci para isso. É o meu jeito de estar no mundo - disse ela, em entrevista a ZH em 2001.
Magliani - A Solidão do Corpo
> Visitação de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 13h30min às 18h. Prorrogada até 12 de julho. Entrada franca.
> Pinacoteca Aldo Locatelli do Paço Municipal (Praça Montevidéu, 10), em Porto Alegre, fone (51) 3289-3701.
> Preste atenção: a visitação só pode ser feita durante a semana, pois as salas de exposição do Paço Municipal não abrem nos fins de semana e feriados.
> A exposição: reúne obras da artista, como pinturas e gravuras, desde os anos 1960. Há também um ensaio fotográfico com Magliani realizado por Luiz Carlos Felizardo em 1971.