- Há 20 anos, não se vê obra de arte que não seja conceitual. Sinto isso muito próximo do meu trabalho - avalia o escultor Saint Clair Cemin.
Nascido em Cruz Alta, em 1951, e radicado nos Estados Unidos desde 1978, o criador da Supercuia, instalada à beira do Guaíba, em Porto Alegre, na 4ª Bienal do Mercosul (2003), sorri ao lembrar a polêmica sobre a obra, que ele define como átomos:
- Representa a vida.
São 9h de sexta-feira, 10 de maio. A reportagem de ZH acompanha um dos artistas contemporâneos brasileiros mais reconhecidos no Exterior refletindo sobre o que havia visto no dia anterior, na Frieze Art Fair NY. Cemin foi convidado a exibir a obra Fotini (2013), um martelo de aço de três metros de altura dentro de uma caixa de vidro, no Parque das Esculturas da feira.
>>> Veja, no blog de Milena Fischer, imagens do ateliê de Saint Clair e do encontro com Vik Muniz
- Gostei muito do que vi - diz, enquanto dirige por Manhattan rumo ao Brooklyn, onde mantém seu ateliê. - A feira está pictórica, visual. Há muita pintura, escultura, textura. A impressão do feito à mão está presente.
Saint Clair Cemin é perspicaz e emana leveza nos comentários bem-humorados sobre arte:
- Houve uma época em que era preciso ser oftalmologista para ir a uma exposição. Saía cansado de tanto ler obras e textos. A Frieze está perfeitamente visual.
Enquanto dirige, o artista que mantém ateliês na China, na Grécia e na França observa a paisagem que jamais entedia seu olhar. Cemin tem grande interesse por arquitetura:
- Manhattan está passando por uma fase ótima depois do péssimo legado dos anos 1980. Veja ali a Torre da Liberdade, de Frank Gehry, quase pronta, uma maravilha. Gaudí já dizia: arquitetura é uma escultura habitada.
Na margem direita, surge a megaescultura Sisters (foto abaixo), de Paul McCarthy, junto ao Rio Hudson. Cemin não resiste:
- Veja que beleza, que interessante isso. Remete à exposição dele que está na galeria Hauser & Wirth. Quero muito ir ver. Aliás, a mostra de Claes Oldenburg no MoMa está fantástica! Tem tanto humor, tanta leveza.
Fonte: divulgação
O gaúcho tem opiniões concretas temperadas com tom de simplicidade:
- A pergunta "o que é arte?" só pode ser respondida por ela mesma. Durante muito tempo, a arte funcionou como manifestação de ícones na religião ou na arquitetura. O interessante é que agora ela se libertou dessas conexões e se define por si mesma. É um campo aberto para todos os sentidos. Não ter uma definição é salutar. É divertido.
O escultor abre um largo sorriso:
- O ser humano que ainda pode brincar está mais perto do nascimento do que da morte, e quem está por morrer não consegue criar. É muito importante não poder definir o que é arte. Isso abre um campo de experiências vital. É um real apelo à vida! Não é uma indústria e não serve a ninguém, é um manifesto à permissão de ser louco, de sair da atividade codificada e entrar na área do extraordinário.
Chegando ao prédio do Brooklyn onde trabalha (ele mora com a mulher, Svetlana, e a filha, Sara, 13 anos, fica em Manhattan), Cemin elege a Documenta de Kassel de 1992, na Alemanha, como marco para a arte brasileira:
- Foi ali que artistas, como Cildo Meireles, Waltercio Caldas e eu, ganharam relevância internacional. A repercussão da produção artística está ligada à economia. Se há dinheiro, há mercado, e isso começou a acontecer no Brasil. Artistas de países ricos sempre estão em maior evidência.
Cemin se dirige à enorme porta verde que nos conduzirá ao segundo andar do prédio. Lá está o espaço de quase mil metros quadrados da oficina de um artista que está cada vez mais próximo do extraordinário.
>>> Veja, no blog de Milena Fischer, imagens do ateliê de Saint Clair e do encontro com Vik Muniz
A trajetória de Saint Clair Cemin
> Artista nascido em Cruz Alta, em 1951, Saint Clair Cemin mudou-se para Nova York em 1978, depois de ter estudado na Escola Nacional Superior de Belas Artes, em Paris.
> Nos anos 1980, passou da gravura à escultura, produzindo obras de pequenos e grandes tamanhos, como a Supercuia, apresentada em 2003 na 4ª Bienal do Mercosul (à direita), e Fotini, martelo de três metros de altura exposto na Frieze Art Fair NY, realizada de 10 a 13 de maio.
> Depois de ter ficado seis anos em Paris acompanhando a construção do Musée de la Cahsse et de la Nature, para o qual fez todos os detalhes em bronze, voltou a Nova York em 2012.
> Há obras de Saint Clair em Inhotim (MG) e em instituições internacionais como o Whitney Museum (NY) e o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles. Já expôs na Bélgica, nos Estados Unidos, na França, na Suécia, na Itália e em outros países.
> Participou de grandes mostras, como Documenta de Kassel (1992), na Alemanha, Bienal Internacional de São Paulo (1994) e a Bienal do Mercosul (2003).
>>> Veja, no blog de Milena Fischer, imagens do ateliê de Saint Clair e do encontro com Vik Muniz