*Matéria publicada originalmente em 10 de junho de 2008 (jornal Zero Hora)
Dois escritores, dois pensadores da sociedade, falaram sobre literatura, livros e leitores no quarto encontro da segunda edição do Fronteiras do Pensamento Copesul Brasken, ontem, no Salão de Atos da UFRGS, na Capital.
A boa e saudável discussão foi muito além dos textos, das páginas, das bibliotecas. Tocou na ferida Amazônia, pois Milton Hatoum é de Manaus. Passou pelas lembranças de revolucionário de Sergio Ramírez, que nasceu na Nicarágua.
Autor premiado, sucesso de público, Hatoum, que vive em São Paulo, acha que está muito difícil formar novos leitores no país, falou sobre passagens entre a vida e a literatura. Reclamou da precariedade das nossas bibliotecas e da falta delas em milhares de colégios brasileiros. Mas salvar a Amazônia da devastação, da biopirataria, de algumas ONGs exploradoras, parece tarefa de um exército
de super-homens:
- Considero uma insanidade derrubar florestas para plantar soja. Eu gostaria de ver as Forças Armadas controlando as fronteiras da Amazônia. Os agentes do Ibama quando visitam as madeiras são recebidos à bala. Não existe lei na área. Uma hora o governo diz uma coisa, na outra fala diferente - relamou Hatoum.
Pouco conhecido no país, sandinista histórico, guerrilheiro de arma na mão na Nicarágua do passado, Ramírez ainda se considera um revolucionário. Não mais com um fuzil atravessado no peito, óbvio. Reclama, entre outras coisas, da falta de atenção do seu governo com a Cultura.Fora do seu país, mirando os Estados Unidos, com olhos críticos, ele entende que a primeira preocupação internacional de Obama, se eleito, será com o Iraque. Cuba vem depois:
- As relações com a América Latina dependerão de como Obama tratar Cuba. Não podemos ver a América Latina como um bloco único. Nossa região não é homogênia. Os governos são muitos e o pensamento distinto. Aliás, Obama fala muito de Cuba, pouco da América Latina - destacou Ramírez durante a entrevista coletiva concedida na tarde de ontem, em um hotel no Moinhos de Vento.