- É como um balé, só que na velocidade - disse no dia quinze de maio o capitão do time, Malcolm Borwick, referindo-se ao polo, o chamado "esporte dos reis". Como muitos de seus melhores atletas, Borwick acompanha o circuito internacional, participando de 110 partidas por ano que o levam a viajar ao redor do mundo.
O mais proeminente entre os três jogadores era o homem que atraiu os caminhões de equipamentos, as câmeras e 200 jornalistas internacionais, além de várias centenas de espectadores pagantes ao Greenwich Polo Club naquela manhã fria e chuvosa de quarta-feira - o príncipe Harry, que atualmente é o terceiro na linha de sucessão ao trono britânico.
- Se você for superotimista como o Harry, vai atuar bem no campo - sugeriu Borwick, que marcou seis gols. Efetivamente, o alto astral do príncipe foi que impulsionou o time Sentebale - que tem o mesmo nome que a instituição de caridade que ele patrocina em Lesoto - ao sucesso.
Em relação ao polo, foi um jogo mediano. Destaque para algumas jogadas estratégicas de Dawn Jones, a única jogadora em campo, e algumas corridas vigorosas de Nacho Figueras, o argentino bonitão (marcador de seis gols) e modelo da Ralph Lauren, mas a verdade é que ninguém nas arquibancadas prestava a mínima atenção a ninguém a não ser o príncipe inglês.
- Deve ser difícil ser príncipe Harry o tempo todo - disse a modelo canadense Jessica Stam que, apesar do cenário suburbano e do tempo chuvoso, estava usando um vestido preto estruturado da Thom Browne e saltos altíssimos da mesma grife.
- É só príncipe Harry, príncipe Harry, príncipe Harry - acrescentou.
Não seria bom, ela completou, ser simplesmente Harry de vez em quando?
Claro que isso nunca vai acontecer. É verdade que ele já fez tentativas admiráveis de fugir da formalidade de seu papel e posição - como o strip bilhar numa suíte de Las Vegas em 2012, por exemplo, um desastre de relações públicas cuja turnê mais recente aos EUA pretendeu apagar. Em plena era dos smartphones, a noite do príncipe em Vegas mostrou falta de cálculo e jogo de cintura, mas provavelmente ajudou a levantar seu índice Klout, o que não é de todo mau. Pesquise "príncipe pelado" no Google e veja o que aparece.
A seguir, pesquise "príncipe cortando fita".
Não foi exatamente para ver o cortador de fita que o pessoal apareceu na quarta a julgar pelo número de mulheres com chapéus elaborados e homens bajuladores de suéter de caxemira em tons pastel e sapato Oxford bicolor. Quem, também chamou a atenção foi o estilista Valentino Garavani, que chegou com Giancarlo Giammetti, seu sócio - os dois de jaqueta e cabelos impecáveis, além de um bronzeado num tom que lembrava muito a costeleta especial do Dallas BBQ.
O príncipe apareceu depois que os convidados já tinham se sentado para um almoço cujos patrocinadores incluíam o uísque Royal Salute, a Range Rover e a joalheria Garrard, e fez um pequeno discurso sobre a instituição que apoia. Como sua mãe fazia, falou com emoção sobre os efeitos do HIV e da Aids nas crianças da África subsaariana (- É perigoso contrair a doença e mais perigoso ainda não falar sobre ela - disse ele) e só depois se sentou para comer filé mignon, salada mista com ervilha e cenoura baby e ser o centro das atenções de todos os seres humanos presentes.
- Ele é bem normal - disse Karolina Kurkova, a modelo que se sentou à direita do príncipe (Stephanie Seymour estava à esquerda), depois do fim da refeição. A essa altura, muitos dos convidados mais saidinhos - incluindo Gayle King e Garavani - conseguiram burlar o esquema de segurança para se aproximarem da mesa e cochicharem na orelha do rapaz.
- Não é fácil ser normal - afirmou Avril Graham, editora executiva de moda e beleza da Harper's Bazaar, acrescentando que, na vida dos membros da realeza - Você é levado de um lugar para o outro e encontra tudo arrumado e preparado. E todos nós sabemos o que é viver com gente que está acostumada a ter os outros para fazer tudo.
Sabemos, sim. Elas são mimadas e mesquinhas e mandonas e arrogantes e, de forma alguma se parecem com o príncipe britânico, que se comportou com tamanha simplicidade que até pareceu normal - quer dizer, normal para alguém cuja avó é a rainha Elizabeth II.
- Você acha que tenho chance com o Harry? - uma jovem socialite escreveu no cartão marcador de lugar, passando para uma amiga do outro lado da mesa. Embora a resposta fosse encorajadora, a logística poderia ser complicada, pois o príncipe partiria para a Inglaterra logo depois do jogo.
- Você acha - a jovem acrescentou num PS - que a Fulana não gostaria dele porque ele é ruivo?
Chutando, este humilde repórter acha que não.