*Matéria publicada originalmente em 15 de agosto de 2007 (jornal Zero Hora)
Pierre Lévy está cansado de falar sobre o presente. Um dos principais teóricos da informação na era da Internet, o sociólogo nascido na Tunísia e radicado no Canadá acha que é preciso dar um passo além no debate sobre cibercultura.
O futuro, segundo Lévy - que participou ontem do seminário Fronteiras do Pensamento, na PUCRS -, está relacionado a uma nova inteligência artificial e a novas linguagens para sistemas de busca na Internet.
- Atualmente apenas utilizamos o ciberespaço para coisas que já fazíamos antes, como ouvir rádio ou ver TV. Serão necessárias várias gerações para que se comece a explorar de forma original a Internet - afirmou.
Apesar de mostrar mais entusiasmo ao falar de suas pesquisas recentes, o autor de O Que é o Virtual? (1996) comentou questões que considera superadas - como a exclusão digital. Lembrou que há 20 anos, menos de 1% da população do mundo usava a Internet e que hoje existem quase 1 bilhão de internautas. O índice chega a 90% da população em países desenvolvidos.
- Os três países em que a quantidade de conexões à Internet está aumentando são China, Índia e Brasil. O obstáculo não está no preço dos equipamentos, mas no desenvolvimento cultural das pessoas - disse o sociólogo, em entrevista coletiva, à tarde. A tendência de crescimento de usuários no Brasil também se reflete em outro fenômeno: a liderança do país na quantidade de clientes de softwares e sites de relacionamentos, como o MSN Messenger e o Orkut. Lévy atribui estes dados a características culturais do país:
- Aqui existe um capital social muito forte, muitas relações entre as pessoas, e, como a Internet é um meio para criar, promover e manter redes de relacionamentos, isso não é uma surpresa para mim.
Lévy falou também sobre a evolução da economia e da informação, lembrando que a Internet não é a primeira revolução da comunicação, citando o surgimento de outros instrumentos simbólicos, como a oralidade, a escrita, a mídia de massa e, agora, o ciberespaço como sucessor. A atual revolução, iniciou com o surgimento dos computadores, nos anos 1950, passou pela criação dos PCs domésticos e das redes, nos anos 1970 e 1980, e seguiu com a popularização da web, nos anos 1990. O próximo passo seria em 2015, seguindo uma escala evolutiva. O surgimento da Internet significou a interconexão de servidores, enquanto que o surgimento da web (www) significou a interconexão de páginas. Em 2015, segundo Lévy, haverá o surgimento de um espaço semântico, com a interconexão de conceitos, corrigindo um defeito da rede na atualidade:
- Os dados hoje existem e estão disponíveis, mas estão separados no espaço semântico. Lévy crê que estamos apenas nos primórdios de um processo maior. O futuro diz respeito ao aperfeiçoamento da inteligência artificial, mas não como ela foi concebida nos anos 1970.
Para ele, as primeiras idéias sobre o assunto partiram de um pressuposto errado: a de que a expressão da inteligência humana se dava por processos lógicos e individuais, e que a inteligência artificial, portanto, devia seguir esse princípio.
- Mas não temos a lógica como único limite. Nossa inteligência é cultural sa expressão está na comunicação e na colaboração. A questão é: como aumentar nossa inteligência coletiva?