*Matéria publicada originalmente em 11 de abril de 2007 (jornal Zero Hora)
Falando em português, como uma deferência ao público brasileiro, o historiador inglês Peter Burke apresentou ontem à noite, no Salão de Atos da UFRGS, uma conferência mapeando várias linhas de pensamento sobre o fenômeno recente da globalização, tanto política e econômica quanto cultural.
A palestra de Burke é parte do ciclo de encontros Fronteiras do
Pensamento, que já trouxe a Porto Alegre nomes como o historiador Robert Darnton e o filósofo Luc Ferry. O próximo palestrante, no dia 17, será o historiador e ex-chanceler mexicano Jorge Castañeda.
Casado com uma brasileira, Burke já morou um ano no Brasil e esteve várias vezes no país - o que explica sua intenção de ler a palestra em português. Ele abriu sua conferência afirmando que considera o Brasil um país com uma cultura mista, híbrida, em que interagem várias culturas e sociedades diferentes com um relativo grau de harmonia e pluralismo - um ponto crucial para o futuro da globalização.
Historiador recuperou três outros períodos "globais"
Para traçar um panorama amplo do fenômeno e suas conseqüências, Burke optou pelo que ele mesmo definiu como uma "abordagem tridimensional", sustentada por três eixos: sociologia, geografia e história. A sociologia forneceria os instrumentos para detectar como o processo é recebido de maneiras diferentes por grupos sociais. Parece oferecer mais benefícios à classe média do que aos pobres, por exemplo, ou integrar mais os jovens do que os velhos.
Falar de um eixo de geografia para um processo que está abolindo limites geográficos, segundo Burke, pode parecer paradoxal, mas há limites locais perceptíveis na grande onda global. Ele citou como exemplo um episódio, em 1994, quando, ao vir a Porto Alegre para uma palestra, comprou dois romances históricos do gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil. Ao voltar a São Paulo, não encontrou livros do mesmo autor.
Também a história foi apresentada por Burke como outro eixo para entender a globalização, e Burke recuperou outros três momentos de tráfego cultural global: as navegações ibéricas dos séculos 15 e 16, meados do século 18 e o fim do século 19, todos de uma forma ou outra ligados a inovações da tecnologia e a expansões políticas de impérios.
- É tentador ver esses momentos como estágios do lançamento de um foguete, mas a história, assim como o bom Deus, parece preferir ziguezagues a linhas retas - definiu.