*Matéria publicada originalmente em 27 de maio de 2008 (jornal Zero Hora)
Que tipo de cinema é capaz de pautar o debate público no Brasil? Quão diferentes podem - e devem - ser os filmes produzidos no país? O que aproxima a obra de dois autores tão distintos mas tão representativos do melhor cinema brasileiro atual, o carioca José Padilha, 40 anos, diretor de Ônibus 174 (2002) e Tropa de Elite (2007), e o paulista Beto Brant, 43, responsável por Os Matadores (1997), O Invasor (2002) e Cão sem Dono (2007)?
Questões como essas pautaram o debate de ontem no Salão de Atos da UFRGS, quando os dois subiram ao palco para o terceiro encontro do ano do Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem.
Diferentemente do encontro anterior, quando os teatrólogos Fernando Arrabal e Gerald Thomas se desentenderam e exigiram falar em separado, o clima foi de harmonia. Com mediação do jornalista de Zero Hora Roger Lerina, Padilha e Brant debateram frente-a-frente e revelaram duas visões antagônicas sobre o cinema nacional - mas as discordâncias ficaram restritas ao campo das idéias.
- Vou falar de quatro produções que nos permitem chegar a conclusões genéricas sobre o cinema brasileiro - anunciou o diretor de Tropa de Elite.
Além de seus dois filmes, Padilha citou Notícias de uma Guerra Particular (de João Moreira Salles, 1999) e Cidade de Deus (de Fernando Meirelles, 2002) como exemplos de títulos que "transcendem o cinema, gerando discussões em toda a sociedade".
- Por que eles conseguem? O que têm em comum que os faz chegar lá? Uma edição ágil e temas urgentes, muito próximos das pessoas, que as pegam pela emoção, não pela razão. Na entrevista coletiva concedida antes de subirem ao palco, Brant, dono de um trabalho de caráter intimista e de reflexões mais subjetivas, disse discordar da afirmativa do colega:
- Os temas estão aí, sendo debatidos independentemente dos filmes. Filmo para compartilhar algo com o espectador. Se dou mais tempo para ele pensar, se uso planos mais longos, isso não significa que não o estou chamando para o debate.
Apesar das diferenças, ambos elogiaram um ao outro e ressaltaram que a diversidade deve ser um atributo fundamental do cinema brasileiro. - Há demanda para os mais variados tipos de filmes. O devemos nos perguntar é por que só alguns alcançam públicos mais abrangentes - questionou Padilha.