Nascido na Inglaterra, criado em Gana, radicado há 30 anos nos Estados Unidos, Kwame Anthony Appiah já lecionou estudos africanos e afroamericanos nas universidades de Gana, Cambridge, Duke, Cornell, Yale, Harvard e, atualmente, Princeton. Filósofo e especialista em estudos culturais e literários afroamericanos, Appiah passou sua infância em Gana e se educou num colégio em Cambridge, onde obteve o doutorado em literatura. O cosmopolitismo do escritor atravessa toda sua árvore genealógica. Filho de pai africano e metodista e de mãe inglesa e anglicana, aprendeu a conviver com a diversidade como algo natural e necessário, considerando o cosmopolitismo como uma das principais riquezas humanas.
Diversidade para Appiah não é somente uma questão de identidades culturais. A revolução moral das últimas três décadas é assinalada pelo autor como um grande avanço para a humanidade e um ambiente propício para declarar sua homossexualidade. "Quando fui morar nos Estados Unidos, em 1981, se você dissesse no aeroporto que era homossexual seria imediatamente mandado de volta ao seu país. Hoje, se eu disser no aeroporto de Nova York que sou gay, vão me perguntar quem é o meu marido", já comentou o autor em entrevista. E acrescentou: "Se tivessem me dito à época que cheguei que, depois de 20 ou 30 anos, eu poderia não apenas afirmar que sou gay como casar com outro homem, eu acharia um delírio. Esta é uma revolução moral".
Para Zilá Bernd, professora e pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRGS, uma das mais emblemáticas obras de Kwame Anthony Appiah, autor de mais de 22 livros que receberam inúmeros prêmios, é Na Casa de Meu Pai: a África na Filosofia da Cultura (Contraponto, 1997). No livro, há uma síntese da gênese africana como metáfora. Appiah critica uma África que, apoiada sobre falsos valores, detém seu real desenvolvimento - para ele, a heterogeneidade do continente se distorce sob ideologias que tentam, em grande parte, apenas responder a objetivos particulares.
A memória da cultura africana, que trouxe da "casa do pai", irrigará seus estudos sobre temas como raça, etnofilosofia, cultura, nação, identidade, pós-colonialismo e pós-modernidade. - É muito oportuna a presença entre nós de Appiah, já que sua situação de "filho de dois mundos" o conduzirá a desenvolver estudos interdisciplinares, abarcando biologia, filosofia, crítica e teoria literárias, sociologia, antropologia e história intelectual e política.Ele discutirá também questões interculturais: ideias africanas, norte-americanas e europeias - explica Zilá. Para ela, a reflexão do autor é profunda e abrangente ao mesmo tempo, iluminando temas delicados como o racismo dos dois lados do Atlântico.
- Ele toma emprestado do pai um modelo de pan-africanismo sem racismo, que seria válido tanto para a África como para sua diáspora em direção a diferentes regiões do planeta, mas sobretudo para as Américas - analisa. Para a pesquisadora, as questões que Appiah discutirá no âmbito das conferências do Fronteiras do Pensamento deverão interessar a um público muito amplo já que suas reflexões são incontornáveis para os estudos culturais, para as relações entre identidade e nação, etnia, nativismo e literatura.
Kwame Appiah no Fronteiras do Pensamento
12 de agosto de 2013, às 19h30, no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110 - Porto Alegre - RS)
Informações sobre passaportes de entrada no site fronteiras.com