*Matéria publicada originalmente em 02 de outubro de 2007 (jornal Zero Hora)
Nada menos do que 50 anos de conflitos diários. É esse o cálculo feito pelos principais teóricos conservadores dos EUA quando falam sobre o tempo de duração da Guerra do Iraque. Mais: um ataque nuclear americano ao Irã não está descartado.
As informações são fruto dos permanentes contatos que o escritor e jornalista americano Jon Lee Anderson mantém com autoridades militares envolvidas no confronto. Anderson esteve ontem em Porto Alegre para participar do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento.
O escritor - autor da reportagem A Queda de Bagdá e de uma biografia de Che Guevara - classifica o atual de estágio do conflito no Iraque de "desorganizado" e "sem visão estratégica por parte dos EUA", mas arrisca prognósticos. Ao mesmo tempo, ele não descarta um ataque nuclear dos EUA contra o Irã, diante da situação. Ironicamente, o motivo do ataque seriam justamente as supostas tentativas iranianas de fabricar armas nucleares.
- É uma coisa cínica de se dizer, mas uma solução seria um ataque nuclear contra o Irã. Resolveria parte do problema. É uma opção que está sendo discutida. Seria um ataque limitado, não como o de Hiroshima - afirmou Anderson em entrevista coletiva, ontem à tarde.
Jornalista apontou defeitos e qualidades da imprensa nos EUA
O escritor criticou os ataques do presidente George W. Bush às liberdades individuais, citando os casos de tortura e assassinato de suspeitos de terrorismo, que estariam ocorrendo em seu país. Por outro lado, defendeu a imprensa, freqüentemente acusada de ter sido cúmplice dos pretextos utilizados para invadir o Iraque.
- Alguns poucos jornalistas proeminentes realmente desempenharam esse papel. Mas eles foram desmascarados por outros jornalistas americanos. Temos nos EUA a imprensa mais livre do mundo e nós conhecemos tanto os defeitos quanto as virtudes dessa imprensa, justamente por causa desta liberdade - afirmou Anderson.
Uma das conseqüências da dedicação exclusiva dos americanos ao Iraque, afirmou o jornalista, é o crescimento da atuação de líderes como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em diversas partes do mundo. Segundo seus cálculos, Chávez gasta hoje 20 vezes mais dinheiro na América Latina do que os Estados Unidos - que investem 80% de sua verba na Colômbia. A quantidade exorbitante gasta diariamente no Iraque estaria deslocando os EUA da disputa internacional de poder.