*Matéria publicada originalmente em 13 de novembro de 2008 (jornal Zero Hora)
O norte-americano Richard Serra, 69 anos, comumente saudado como o maior artista em atividade no mundo hoje, fez ontem à noite em Porto Alegre uma apaixonada exposição de suas idéias sobre arte.
Décimo-quinto conferencista do ciclo Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem, permitiu-se dar conselhos a jovens artistas, arriscou uma definição para arte (ou por que os homens fazem arte) e comentou vivamente o próprio trabalho - sem mostrar imagens.
À tarde, na entrevista à imprensa, ele já prevenira que não exibiria slides. Serra acredita que fotografias ou outras formas de reprodução não podem substituir a experiência sensorial e corporal que suas esculturas monumentais propõem. Sua fala também seguiu um roteiro diferente daquele que dá a tônica no Fronteiras. Em vez de realizar uma conferência, escolheu o formato de uma entrevista. Dividiu o palco do Salão de Atos da Reitoria da UFRGS com a australiana Lynne Cooke, curadora-chefe do Museo Nacional Reina Sofia, de Madri. Avisou que não sabia o que ela perguntaria. Lynne foi pedindo que ele comentasse alguns materiais que usou nos anos 1960, fez perguntas sobre seus anos de formação e sobre a turma de artistas com quem ele andava.
Artista foi motorista de caminhão quando jovem
Serra lembrou seu interesse na juventude pela escultura de Brancusi e a pintura de Pollock. Daí, traçou linhas importantes sobre arte:
- A arte não avança de forma linear. Avança por exageros, às vezes por zombaria. Os jovens, se imitam o que veio antes, são acadêmicos. Se interpretam o que veio antes, mesmo que erroneamente, avançam. O escultor admitiu que é difícil dar conselhos, mas tentou:
- Os jovens não deveriam se preocupar com a conservação ou a permanência de seus trabalhos. O que devem fazer é buscar uma extensão de suas sensibilidades. A matéria que escolherem, não importa a matéria, vai impor a sua forma.
Serra lembrou que, na juventude, foi motorista de caminhão de mudanças ao mesmo tempo em que se dedicava à arte. Seus únicos interlocutores eram seus amigos artistas.
- Os jovens devem buscar seu público entre si mesmos, não no mercado ou na mídia. Por fim, resumiu por que faz arte: - Faço arte por um motivo bem egoísta: eu queria um estilo de vida alternativo, em que pudesse experimentar com minha própria cabeça. É um impulso da primeira infância: as pessoas precisam encontrar uma forma de expressão para mitigar sua identidade, para se verem melhor.