O Charlie Brown Jr. é daquelas bandas que o sujeito gosta quando adolescente e, depois de crescido, nega com todas as forças. Nenhum problema, afinal, rock é coisa de guri, sempre foi assim e sempre vai ser. E era nisso que Chorão, cérebro e voz (e chicote) do grupo se fiava desde que invadiu o dial das FMs, no final dos anos 1990, para nunca mais sair.
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A fórmula do sucesso estava presente logo no primeiro disco, Transpiração Contínua Prolongada, lançado em 1997: música baseada na mistura de hardcore, ska e hip-hop (Suicidal Tendencies era a principal inspiração); letras divagando sobre mulheres, festas e problemas juvenis; e um vocalista encrenqueiro que falava a língua do seu público. Naquele ano, era impossível ligar o rádio e não ouvir Proibida Pra Mim, a MTV rodava sem parar o clipe de O Coro vai Comê!, todas as festas tocavam Quinta-Feira e muita gente ganhou o apelido de Frango da Malásia sem nem saber o que significava.
E o que já estava bom para uma banda saída dos cafundós de Santos ficou ainda melhor a partir de 1999, quando o single Te Levar, do álbum Preço Curto... Prazo Longo, virou tema de abertura do seriado Malhação. Com a sorte jogando a seu favor, dois anos depois os Raimundos anunciariam sua dissolução e o posto de banda preferida dos adolescentes ficou todo para o Charlie Brown Jr.
O que veio depois foi basicamente a manutenção desse status, com a banda lançando discos que repetiam sua fórmula visando sempre a nova geração de adolescentes. A renovação do público do Charlie Brown Jr. era tão maciça e constante que nos shows a faixa etária raramente ultrapassava os 20 e poucos anos. O próprio Chorão, sempre vestido de bermudão, tênis esfarrapado, camiseta quatro números maior e boné, contribuía para essa identificação.
Como fenômeno musical, o Charlie Brown Jr. deixou de ter alguma relevância e ser notícia logo depois do terceiro disco, Nadando com os Tubarões (2000). No noticiário, Chorão só aparecia quando se metia em problemas - e não foram poucos, em cima ou fora do palco.
Agora, seu legado está nas mãos de bandas gêmeas, como Strike, Forfun e Detonautas, que tentam se manter num cenário cada vez menos propício para o rock nacional. A sorte está lançada.