É difícil escrever a respeito de Tony Bennett sem chamá-lo em algum momento de "lenda viva" - por isso, já no começo do texto topamos com essa definição inescapável do maior cantor de jazz do mundo. Com 17 prêmios Grammy e 50 milhões de cópias vendidas só nos Estados Unidos de seus mais de 70 discos, o crooner de 86 anos volta a Porto Alegre para mostrar por que faz mais sucesso hoje do que na juventude. O vocalista que Frank Sinatra chamava de "o melhor cantor do mercado" chega à Capital depois de shows consagradores no Rio e em São Paulo na semana passada.
Tony Bennett apresenta-se nesta terça-feira à noite no Teatro do Sesi acompanhado de um quarteto liderado pelo ótimo pianista Lee Musiker. A abertura fica por conta da cantora Antonia Bennett, filha do mito que está nos palcos desde os quatro anos.
Ganhador de um Grammy honorário pelo conjunto da carreira em 2001 e ídolo entre o público MTV desde que cantou com o grupo Red Hot Chili Peppers e lançou o disco Unplugged em 1994, Bennett está em turnê pela América do Sul na esteira do novo trabalho.
- Fui ensinado a respeitar o público, a não enganá-lo. Eu quero dar o melhor de mim - comentou Bennett a respeito de sua popularidade entre os jovens, em entrevista por telefone a Zero Hora.
Depois do sucesso dos álbuns Duets e Duets II, o americano acaba de lançar seu terceiro projeto de duetos: Tony Bennett: Viva Duets. O CD traz Bennett interpretando alguns de seus maiores hits com artistas latinos consagrados, como Christina Aguilera, Marc Anthony, Miguel Bosé, Gloria Estefan, Juan Luis Guerra e Thalía, além das brasileiras Maria Gadú (em uma bela versão de Blue Velvet) e Ana Carolina - que se apresentou ao lado do veterano no concerto do Rio na quinta passada, cantando The Very Thought of You. Também editado há pouco no Brasil, o DVD Duets II: The Great Performances registra as parcerias de Bennett no estúdio - incluindo Body and Soul, última gravação de Amy Winehouse.
- É trágico que ela tenha morrido. Ela era uma grande cantora de jazz. Quando gravei com Amy, queria ter dito para ela ir mais devagar com a bebida e parar com as drogas, porque isso estava destruindo-a.
O octogenário Tony Bennett, que já pintou Lady Gaga nua, revelou que planeja gravar um disco com a pop star ("Ela é uma figura, com aquelas roupas engraçadas, mas é uma grande cantora") e nem quer ouvir falar em aposentadoria:
- Amo demais a vida para isso. Faço o que amo: cantar e pintar. Isso não é trabalho para mim, nunca trabalhei um dia na vida! Quero continuar assim até morrer, melhorando à medida que envelheço.
Entrevista
Zero Hora - O que você espera encontrar nesse retorno ao Brasil?
Tony Bennett - Adoro me apresentar em lugares diferentes do mundo. Como ítalo-americano, adoro a Itália. Mas gosto muito da América do Sul, amo o Rio, as praias e tudo mais. Pinto todos os dias, sabe, e, no Rio, para onde quer que você olhe, enxerga uma pintura. Para mim, o melhor cantor do mundo é João Gilberto. Realmente amo o jeito de ele cantar. Vi um show dele na Itália, foi aplaudido de pé durante 20 minutos, incrível! As pessoas estavam tão quietas escutando João, era ao ar livre e dava para ouvir o vento nas árvores, muito lindo...
ZH - Fale um pouco sobre o disco Viva Duets.
Bennett - Fiz esse disco com meu filho (o produtor Danny Bennett). Reunimos alguns dos melhores e mais populares artistas da comunidade latina atualmente, como Chayanne em The Best Is Yet to Come e Vicentico em Cold, Cold Heart. São músicas em inglês transcritas para o espanhol, em que eles cantam comigo acompanhados por uma bela orquestra. Eles cantam do jeito que eu gosto, com melodias e harmonias bonitas. Não é qualquer porcaria como às vezes fazem por aí. São boas canções.
ZH - E as brasileiras Maria Gadú e Ana Carolina?
Bennett - Elas cantam muito bem.
ZH - Como você avalia sua longa e exitosa carreira?
Bennett - Participei da II Guerra na Europa. Quando voltei, os Estados Unidos proporcionaram aos soldados educação gratuita em qualquer escola. Escolhi estudar no American Theatre Wing, uma maravilhosa escola para artistas. Eles me ensinaram a nunca me comprometer com nada que não fosse a qualidade. Isso foi difícil para minha carreira, porque toda vez que eu gravava por uma grande companhia, eles diziam: "Isso não vai vender". E eu respondia: "Ok, mas quero fazer assim mesmo". Sempre apliquei na minha vida o que aprendi na escola: qualidade, qualidade, qualidade. Nunca faça nada que possa ser rapidamente esquecido. Sempre procurei cantar belas canções. E isso tem funcionado para mim: tenho 86 anos, e faço mais sucesso hoje do que quando tinha 40.