Londres - Assim que a feira de artes Frieze abriu suas portas para aqueles que são solenemente conhecidos como "colecionadores sérios", um homem ficou parado no estande White Cube contemplando a obra preta e prateada de Damien Hirst, "Destruction Dreamscape" (algo como "paisagem onírica da destruição"). Depois de algum tempo, ele se dirigiu a sua companhia muito bem vestida. Ela o olhava ansiosamente.
- Reluzente - ele disse.
Ele provavelmente não era o comprador que abocanhou a "Destruction Dreamscape" por 800 mil dólares, mas seu comentário resumiu graciosamente o glamour da arte teatral que é a Frieze. Tem muita coisa que brilha - pessoas, dinheiro e objetos de arte espalhafatosos - nessa feira anual de arte contemporânea em Regent's Park, que tem sido, sem dúvida, algo imperdível e que precisa estar na lista das pessoas que estão por dentro do mundo da arte, desde que foi inaugurada em 2003. Mas depois de uma década, ela ainda parece ter um certo charme que é só seu.
- A Frieze tem um ponto de vista diferente - conta Thelma Golden, diretora do Studio Museum no Harlem. - Você encontra muita informação aqui, é uma verdadeira conexão com o que os artistas andam fazendo, e o que está acontecendo.
Mas a grande notícia é que este ano na Frieze não houve nenhum artista em particular, nenhuma tendência notável ou venda espetacular, embora fazer negócios fosse rápido no primeiro dia, com a "White Snow Head" (um enorme busto branco) tendo sido vendida por 1,3 milhões de dólares nos primeiros 10 minutos. Ao invés disso, o buchicho todo era sobre a inauguração da Frieze Masters no dia anterior, uma mostra separada, do outro lado do parque, exibindo trabalhos feitos antes do ano 2000.
É uma expansão inteligente da marca Frieze, feita pelos fundadores e diretores da feira, Matthew Slotover e Amanda Sharp, capitalizando lucros sobre milhares de colecionadores, negociantes, curadores e personalidades do mundo da arte que chegam a Londres todo mês de outubro para a semana da Frieze - um tour frenético de inaugurações, exibições em grandes museus, leilões e festas.
Em uma entrevista poucos dias antes da inauguração, Slotover e Sharp não contestaram o interesse comercial de monopolizar o resto da história da arte para a Frieze, mas continuaram afirmando que sua inspiração é muito mais voltada para curadores do que para a publicidade.
- A Frieze sempre foi supercontemporânea, arte fresquinha saída do estúdio - definiu Slotover. - Mas nos tornamos muito conscientes de que nossos amigos que são artistas não estão mais olhando apenas para os trabalhos feitos hoje em dia, e sim se inspirando em coisas do passado. Achamos que a mostra Masters iria contextualizar a arte contemporânea e que poderíamos fazer isso de um jeitinho Frieze.
Victoria Siddall, diretora da Frieze Masters, disse que eles também estão muito conscientes da crescente tendência do museu em justapor trabalhos contemporâneos e mais antigos para mostrar a linhagem e a influência.
- Estávamos recebendo fichas para a feira contemporânea vindas do mundo todo - ela disse. - Para muitas das galerias tentando se apresentar conosco, isso não fazia muito sentido, mas nos fez perceber quanta demanda havia.
A feira Masters tem sido, com certeza, organizada do jeitinho Frieze. Com seus estandes básicos com um toque sereno moderno em cinza e branco projetado pela arquiteta nova-iorquina Annabelle Selldorf, ele oferece uma intrigante justaposição de estilos e aparências, bem como uma visão caleidoscópica tentadora da história da arte.
- É a linhagem das ideias através da história que faz o presente tão relevante - disse RoseLee Goldberg, diretora do festival Performa em Nova York, que veio a Londres para ver as duas feiras Frieze. - Foi ótimo ficar de frente com obras de Lynda Benglis e de Louise Bourgeois, e poder ver uma pintura da Virgem com Jesus do século XII de perto. O período de 200 ou 300 a.C. até 2000 d.C. criou um panorama de ideias fenomenal.
Embora alguns frequentadores regulares da Frieze tenham expressado alguma dúvida sobre se seria ou não uma boa ideia misturar colecionadores supercontemporâneos e aqueles com gostos históricos mais ecléticos, havia compradores para arte de alta qualidade, assim como para as obras mais obscuras. A "Buste d'Homme" de Picasso, de 1969, pendurada ao lado da "L'Ilyssus du Parthenon" de Matisse, na Acquavella Galleries, foi vendida por 9,5 milhões de dólares, enquanto a galeria de Londres Sam Fogg, especializada em arte medieval e que exibiu gárgulas de pedra enormes, juntamente com outras coisas, vendeu várias peças "na casa dos 50 mil", segundo um porta-voz da galeria.
Havia grandes mestres (Poussin, Canaletto); um enorme móbile de Calder, balançando ao som de música brasileira, na Helly Nahmad; e uma coleção de pinturas dos séculos XVI e XVII na galeria David Koetser de Zurique, incluindo as maravilhosas alegorias barrocas das estações de Giovanni Stanchi, e a obra de Sebastien Stoskopff, "Vanitas With a Vase of Theriac".
- Há muito interesse; nós já temos várias peças reservadas - disse uma galerista da Koetser pouco depois da inauguração da feira.
Muitas das grandes galerias como Gagosian, Hauser & Wirth e Victoria Miro também tinham estandes na Frieze London (como agora é chamada a tenda contemporânea), e as exposições dos conteúdos entre as duas feiras foram, algumas vezes, surpreendentemente parecidas.
A colecionadora de arte contemporânea Beth Rudin DeWoody disse ter comprado "algumas coisinhas" no dia anterior na Frieze Masters. "Eu achei algumas peças bem interessantes", disse ela, "duas obras de John McLaughlin, uma de Hannah Wilke e uma pequena de Gavin Turk".
Na Frieze London, as vendas nos 175 estandes estavam boas, isso se não tiverem reproduzido o frenesi de alguns anos atrás, conforme contado pelos frequentadores da Frieze. "As pessoas que vêm para a mostra da manhã já sabem o que querem", disse Anna Gavazzi, sócia de vendas na galeria Sadie Coles HQ em Londres, onde uma vistosa cadeira de pendurar de Sarah Lucas, aparentemente feita com imagens de seios, estava por 150 mil dólares, e trabalhos menos caros "na margem dos 20 mil", foram exibidos pelo finalista do Turner Prize, Spartacus Chetwynd.
- Vendemos quase tudo - contou ela, enquanto a multidão se acomodava para a sessão da noite.
Alissa Friedman, uma das diretoras da Salon 94 em Nova York, disse que sua impressão foi de que "havia uma energia similar às dos anos passados, mas acho que muitas galerias têm trazido artistas jovens com preços mais baixos.
- Mas na verdade é para isso que serve essa feira, artistas vivos - disse ela.
The New York Times
Uma irmã para uma mostra de arte brilhante em Londres
Expansão da marca Frieze em uma feira separada da tradicional foi bem recebida pelo público
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