Quem estava no Beira-Rio no histórico encontro de Roberto Carlos com o tenor Luciano Pavarotti, em 1998, acabou assistindo a um espetáculo à parte: a consagração de Hebe Camargo em uma imperial volta olímpica no estádio lotado, aplaudida de pé, como uma diva da música ou do teatro. O carinho do público gaúcho com a grande dama da TV naquela noite em que as atrações oficiais do espetáculo eram duas estrelas da música internacional talvez tenha sido surpreendente, mas apenas para quem não entende a capacidade que a televisão tem de aproximar o espectador dos seus ídolos como se eles fossem pessoas da família. O Beira-Rio saudou Hebe com o carinho que devotamos a uma tia querida que mora longe e não apenas como uma apresentadora veterana de TV.
Ao longo de mais de 50 anos, Hebe demonstrou a rara capacidade de ser muito maior do que as atrações das quais participou. O formato dos seus programas era de certa forma anacrônico, e suas entrevistas não eram capazes de extrair grandes revelações de celebridades ou políticos, mas a sua popularidade nunca foi afetada por isso ou pelo troca-troca de emissoras ou mesmo por suas posições políticas conservadoras - chegou a apoiar publicamente o amigo Paulo Maluf. As modas entravam e saíam, a televisão se reinventava, a audiência migrava para apresentadoras mais jovens ou para a Internet, mas a personagem Hebe Camargo nunca perdeu o interesse. Se mandava beijos ou declarações de amor para Roberto Carlos era notícia, se brigava e fazia as pazes com Silvio Santos, o "patrão", era notícia, se cantava ou falava de política, era notícia, se raspava o cabelo e tinha coragem de mostrar era notícia. Não havia uma apresentadora nova de TV que não corresse a pedir a bênção da matriarca antes da estreia - e um "que gracinha!" de Hebe funcionava quase como um certificado, se não de qualidade pelo menos de potencial para agradar o público tanto quanto ela sempre agradou.
O grande feito de Hebe Camargo foi ter inventado um estilo de comunicação com o telespectador, baseado em seu carisma natural e na espontaneidade de quem transforma qualquer ambiente na varanda de casa, que atravessou meio século de história sem nunca deixar de ser, para uma legião de fãs amorosos espalhados por todo o país, uma gracinha.