Ele pode não ter o rosto mais conhecido, mas é a presença mais aguardada do 40º Festival de Gramado. Astro internacional desta edição evento, o diretor argentino Juan José Campanella desembarca nesta quarta-feira na Serra para receber o Kikito de Cristal, em homenagem marcada para as 21h30min.
Com a agenda abarrotada desde que venceu o Oscar com O Segredo dos seus Olhos (2009), vai passar correndo pelo festival. Por isso topou falar com ZH antes da viagem, ainda em Buenos Aires.
- Será minha segunda vez em Gramado - conta. - Estive aí apresentando O Filho da Noiva (2001). Foi quando conheci o Brasil. Recordo que fiquei chocado com a popularidade de celebridades e diretores brasileiros que eram desconhecidos para mim. Ali caiu a ficha do quanto nós, latino-americanos, somos ignorantes com nossos países irmãos.
Esta ignorância, prossegue o cineasta, não diminuiu nos últimos anos, como se costuma dizer:
- É um pecado que Brasil e Argentina não tenham mais intercâmbio cultural. É pela tentativa de estabelecer esta ligação que valorizo muito o reconhecimento que Gramado me reserva. Precisamos nos olhar mais um ao outro.
Campanella completou 53 anos em julho. Além de O Filho da Noiva, mandou a Gramado O Mesmo Amor, a Mesma Chuva (1999). Também dirigiu O Clube da Lua (2004), outro melodrama estrelado por Ricardo Darín, e, nos Estados Unidos, episódios de séries como House e Law & Order. Há dois anos trabalha "full-time", como diz, no desenho animado Metegol, que, projeta, deve demorar outros 12 meses para ser finalizado - "Não sabia que implicaria em tanto trabalho", acrescenta, espantado com os desafios técnicos da animação.
Desabafo mesmo, no entanto, é o que ele faz ao comentar o trabalho em Hollywood, sobre o qual foi incitado a falar a partir da comparação com os brasileiros Walter Salles e Fernando Meirelles, que, como ele, têm se dedicado a projetos internacionais em língua inglesa e, também, a filmes realizados em seu país de origem:
- Olha, não sei o que estão oferecendo a Salles e Meirelles, mas a mim chegam a todo instante uma infinidade de longas de super-heróis, invasões extraterrestres e jovens feiticeiros. Parece que nos EUA a única coisa que interessa agora são os filmes de gênero. Não tenho problema com isso, mas sim com algo que não tem nem roteiro original. Pelo meu trabalho em televisão, tenho passado tempo em Hollywood e, vou te dizer, o que acontece lá não é bonito. Esta falta de originalidade e esta coisa de se guiar só pelas tendências do mercado não é legal para um diretor preocupado com o que seus filmes estão dizendo. Entre todos os projetos que recebi, um me pareceu interessante. Topei dirigi-lo, fiquei um ano trabalhando com o estúdio até me dar conta de que, ao longo desse processo, a ideia original havia sido convertida em algo totalmente pasteurizado e homogeneizado. Abandonei o longa, chateado. Se não tivesse de ir nunca mais para lá, eu não ficaria incomodado.