O dinamarquês Lars von Trier apresentou nesta quarta-feira no Festival de Cannes o filme "Melancholia", que disputa a Palma de Ouro, uma sátira sobre o fim do mundo, realizado segundo ele para superar uma depressão. Na entrevista coletiva, Von Trier provocou constrangimento ao afirmar que compreendia e sentia "um pouco" de compaixão por Adolf Hitler.
Antes da polêmica, o diretor falou sobre o filme:
- Não é realmente um filme sobre o fim do mundo, e sim sobre um estado de ânimo. Passei por fases melancólicas, mas acredito que superei. Parei de beber, leio livros, agora me sinto bem. Mas a melancolia na arte, na música, é algo que sempre me agradou, algo que me comove - disse o diretor.
O filme começa no espaço sideral, com imagens do planeta "Melancholia", que segundo estudos de astrônomos se aproxima da Terra e a destruirá. A música do compositor alemão Richard Wagner aumenta a tensão.
Depois, Lars von Trier conta o que seriam os últimos dias do mundo através de duas irmãs, Justine e Claire, interpretadas pela americana Kirsten Dunst e pela francesa Charlotte Gainsbourg, vencedora em 2009 do prêmio de melhor atriz em Cannes por "Anticristo", também do dinamarquês.
Justine, publicitária, chega mais de duas horas atrasada ao próprio casamento e isto dá início a uma série de acontecimentos.
As cenas da festa lembram "Festa de Família", de Thomas Vinterberg, compatriota de Lars von Trier e seu companheiro no grupo "Dogma" (1990), que question todas as convenções, tanto do cinema como sociais.
A segunda parte do filme trata da iminente aproximação do planeta "Melancholia". Claire, o marido e o filho observam com crescente angústia o fenômeno em um telescópio.
Justine, nervosa e agitada durante o casamento, agora parece muito calma ante o choque de planetas. Ela proporciona ao pequeno sobrinho a única possibilidade de refúgio diante da catástrofe: "uma cabana mágica".
- Gosto de tudo o que tem relação com a dor, com o sofrimento, mas também tenho um lado de luz - disse o cineasta.
O dinamarquês afirmou que o planeta está destruído, mas disse que isto não é grave porque todos vão morrer. Além disso, destacou que segue muito interessado em arte.
Mas na sequência da entrevista, provocou polêmica, ao afirmar que compreendia e sentia "um pouco" de compaixão por Adolf Hitler, ao ser indagado sobre suas raízes alemãs.
Ao lado de Kirsten Dunst, Von Trier declarou entender o líder nazista.
- Eu realmente gostaria de ser judeu, e então descobri que na verdade eu era um nazista. Você sabe, porque minha família era alemã, Hartmann, o que também me dá um certo prazer - declarou, respondendo a uma pergunta sobre a origem alemã de sua família.
- Eu compreendo Hitler. Acho que ele fez algumas coisas erradas, sim, com certeza, mas eu consigo vê-lo sentado em seu bunker no final - continuou o cineasta.
Quando Dunst, que também tem origem alemã, arregalou os olhos, claramente desconfortável com os comentários do diretor, e murmurou para Charlotte Gainsbourg um assustado "meu Deus!", Von Trier tentou acalmá-la:
- Mas eu tenho um argumento no final disso. Estou apenas dizendo - tentou explicar Von Trier - que acho que entendo este homem. Ele não é o que você poderia chamar de um cara legal, mas, sim, eu entendo muito a seu respeito, e sinto por ele um pouco de compaixão, sim. Mas vá lá, eu não sou a favor da Segunda Guerra Mundial. E não sou contra os judeus.
Sob o olhar incrédulo dos repórteres, aparentemente ainda não satisfeito, o cineasta concluiu sua fala com uma crítica a Israel e um elogio a Albert Speer, arquiteto oficial do Terceiro Reich.
- É claro que gosto muito dos judeus - mas nem tanto, porque Israel é um pé no saco. Mesmo assim - como é que eu termino esta frase? - eu apenas gostaria de dizer, sobre a arte, que gosto muito de Speer - indicou, destacando o "talento" do arquiteto nazista, condenado por crimes contra a humanidade.
- O.K., então, sou um nazista - concluiu Von Trier, dando de ombros.