Mano tem 15 anos, está a fim da menina mais gata da turma, enfrenta a barra da separação dos pais, divide angústias e sonhos com a amigona Carol e o professor de violão Marcelo, sonha em ser descolado como o irmão Pedro. Em As Melhores Coisas do Mundo (2010), a cineasta Laís Bodanzky alia autenticidade e frescor, drama e diversão em seu retrato da juventude de classe média paulistana.
Depois de Bicho de Sete Cabeças (2001), elogiado drama sobre um jovem internado por causa de drogas, e de Chega de Saudade (2007), filme-coral ambientado em um salão de baile, Laís Bodanzky volta seu olhar para os adolescentes em seu terceiro longa. As Melhores Coisas do Mundo, que estreia hoje em todo o país, é inspirado na série de livros Mano, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto.
- Os produtores nos deram liberdade total para contar a história que quiséssemos. Achamos que seria saudável falar com adolescentes para fazer um filme que dialogasse com eles. Visitamos sete escolas de São Paulo, reunindo grupos pequenos, de no máximo 10 pessoas, e abrimos o jogo pra eles, perguntado que história a gente deveria contar e como contar. Eles entenderam que queríamos ouvir as histórias pessoais deles, e virou quase uma terapia em grupo - explicou Laís, acrescentando que foram feitas 2,5 mil entrevistas.
Foi durante esses encontros que a diretora e Luiz Bolognesi - roteirista casado com Laís - encontraram os rostos para o elenco adolescente de As Melhores Coisas do Mundo, como o protagonista Francisco Miguez, 15 anos, e Gabriela Rocha, 16, que interpreta Carol, colega e melhor amiga de Mano. A história gravita em torno do universo da escola, onde os garotos têm que lidar com questões "extraclasse" do cotidiano: quem vai ficar com quem na festa, qual é a fofoca da hora nos blogs, a paixonite pelo professor bonitão (Caio Blat), o preconceito com relação aos "diferentes" e o bullying contra os mais frágeis. Mano também tem problemas em casa: o pai (Zé Carlos Machado) anuncia que está se separando da mãe (Denise Fraga) e abandona o lar, desestabilizando a vida dos irmãos Mano e Pedro (Fiuk, filho de Fábio Jr., novo ídolo da novela teen Malhação e vocalista da banda Hóri). Mano busca apoio nos conselhos de Marcelo (Paulo Vilhena), professor que tenta ensinar ao guri os acordes de Something, canção que o protagonista quer tocar para a menina que sonha namorar.
Laís prova mais uma vez ser uma grande diretora de atores: As Melhores Coisas do Mundo harmoniza as atuações de escolados profissionais com jovens novatos, o que acrescenta verdade e vitalidade no relato das "primeiras vezes" da adolescência - ingredientes que costumam faltar nos filmes brasileiros voltados para esse público.
- O filme é totalmente fiel, já vi acontecer tudo aquilo que está lá - diz Gabriela Rocha.
- A gente não teve que decorar nenhuma fala. Falamos os diálogos em cena do jeito que a gente queria - acrescenta Francisco Miguez.
"Adolescente quer ser ouvido"
Laís Bodanzky, Diretora de cinema
Zero Hora - Como foram esses encontros com jovens antes das filmagens?
Laís Bodanzky - Foram muito intensos. Eles sentiram que o que estávamos conversando não sairia dali, então eles se abriram muito. Eu me emocionei várias vezes. Nessas conversas ficou claro que o filme teria que se passar muito dentro da escola. Eles passam mais parte do tempo na escola do que com a família.
Zero Hora - Você percebeu uma vontade deles de serem ouvidos?
Laís - Sem dúvida! Eles sentem muita falta de serem escutados pela família, pela escola e pelos próprios amigos. O adolescente quer ser reconhecido como grupo, sempre. É muito engraçado que todos eles gostam de ser diferentes, na teoria. Mas, na hora que aparece uma pessoa realmente única, o grupo rejeita. A questão do bullying apareceu direto nas conversas. Eu não conhecia essa palavra, mas todos eles sabiam disso, já sentiram na pele.
Zero Hora - E a questão da sexualidade?
Laís - A gente tem muito a ideia hoje de que o adolescente já transa, faz e acontece. E não é verdade! Claro que tem, mas são exceções. Em geral, nessa idade, eles estão recém beijando pela primeira vez. E o beijar e ficar nas festas é uma questão realmente séria: eles não sabem como lidar com isso. A menina que fica com muitos meninos é considerada galinha, enquanto o menino que fica com várias meninas não é visto negativamente, ao contrário: ele é desejado por elas.
* Roger Lerina viajou a convite da Warner
Entra em cartaz "As Melhores Coisas do Mundo" , com o ídolo teen Fiuk
Filme da cineasta Laís Bodanzky retrata sonhos e angústias da adolescência
Roger Lerina
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