O segundo dia de Rock in Rio foi dedicado ao pop rock. Com um público mais diverso do que o de sexta-feira (13), quando o trap reinou e atingiu seu ápice com a apresentação de Travis Scott, no sábado (14) foi a vez da banda americana Imagine Dragons, a última a se apresentar no Palco Mundo, por volta da meia-noite.
Nascido em Las Vegas, o vocalista Dan Reynolds passou uma temporada no Brasil durante a infância, já que seu pai, Ronald Reynolds, um missionário mórmon, viveu no país. O cantor já declarou em entrevistas que teve contato com a música brasileira, embora tenha destacado como principais lembranças o guaraná e as churrascarias.
Em português, tudo o que conseguiu dizer durante o show desta noite foi: "eu amo os cariocas" e "eu amo o Brasil".
A fluência de Reynolds, no entanto, se deu por meio da música e dos vários hits que sua banda acumula desde 2008, quando foi criada. Com a ajuda de uma canga com a bandeira brasileira, que alguém atirou na passarela que leva ao palco, o carismático vocalista já tinha o público da Cidade do Rock nas mãos na terceira canção do setlist, Bones.
Superação
Antes disso, abriram com Fire in These Hills, mas sua voz pareceu não alcançar algumas notas, o que se repetiu mais à frente em Shots. A sequência continuou com Thunder. A surpresa ficou por conta de I'm So Sorry, canção lançada em 2015. De cunho motivacional, como muitas da banda, a letra fala sobre superação. "O sol brilha para todos", diz um trecho.
Reynolds já enfrentou a depressão e, na infância, foi vítima de bullying. Esses "demônios" são os que ele menciona em Demons, um dos maiores hits da banda. A música, ao que tudo indica, o curou.
No palco, ele é visivelmente feliz — e transmite o mesmo sentimento para quem está na plateia —, com um visual de quem parece ter saído da academia há pouco para encantar cem mil pessoas em um festival. Reynolds é alto, com mais de 1,93m, musculoso, mas com muito amor para oferecer.
Take Me to the Beach simboliza bem esse momento de aquecer o coração, longe dos problemas cotidianos e das pessoas que, de alguma forma, afetam a saúde mental. A diversão foi completa com bolas coloridas gigantes circulando pelo público.
Antes de cantar Walking the Wire, do álbum Evolve (2017), Reynolds, usando-se como exemplo, sugeriu ao público que não olhasse para baixo se sentisse medo da tempestade. Se ele superou seus demônios, todos podem, ao menos, tentar fazer o mesmo. "Falem sobre seus sentimentos", aconselhou.
Pop rock de qualidade
Formada também pelo guitarrista Wayne Sermon, o baixista Ben McKee e o baterista Daniel Platzman, a Imagine Dragons está atualmente na estrada com a turnê Loom, baseada no sexto álbum da carreira, lançado no primeiro semestre deste ano. Deste, tocaram as faixas Wake Up, Nice to Meet You, Eyes Closed, In Your Corner e Don't Forget Me, além de Take Me to the Beach.
Reynolds e seus companheiros de palco mostraram tudo o que uma banda de pop rock pode oferecer: pausas estratégicas, o vocalista ao piano para introduzir algumas músicas, duelos de bateria e um som vigoroso com arranjos diversificados, que evitaram qualquer monotonia. Em Eyes Closed, é perceptível a influência do hip-hop, e, em alguns momentos, o flow de Reynolds se aproxima do de um rapper.
Com Believer, um de seus principais hits, a Imagine Dragons encerrou com sucesso a noite de pop rock no Rock in Rio. Nem mesmo Reynolds poderia imaginar ser tão bem recebido em sua sexta passagem pelo Brasil.
Como foi o segundo dia do Rock in Rio
Antes de Imagine Dragons, passaram pelo Palco Mundo a banda americana OneRepublic e a cantora sueca Zara Larsson. Zara fez um show morno e aderiu ao brazilcore, uma tendência no exterior que consiste em usar as cores da bandeira brasileira nas roupas — um movimento popular no TikTok, onde está grande parte do público da cantora. Valeu a homenagem.
Ryan Tedder, vocalista do OneRepublic, usou uma camisa da Seleção Brasileira com o nome do Rei Pelé e arriscou algumas palavras em português.
Pop brasileiro
O pop star brasileiro Lulu Santos, de 71 anos, abriu o dia no Palco Mundo com um show de sucessos, que tem levado em apresentações e festivais pelo país, inclusive no Coala, em São Paulo, no dia 7 de setembro. Enfileirou os hits Toda Forma de Amor, Tempos Modernos e Como Uma Onda.
Após sair do palco, Lulu, o primeiro artista da edição de 1985 a se apresentar na edição de 2024, creditou ao Rock in Rio o fato de ser hoje um performer muito melhor do que no início de sua carreira, nos anos 1980.
— Da primeira vez (em 1985), saí do show com uma sensação ruim. Achei que não tinha ido bem. O performer que sou hoje nasceu em 1985, quando minha figura artística narcisista se encontrou com a realidade, teve um reality check (choque de realidade). E o reality check foram as bandas estrangeiras — afirmou ao Estadão.
A programação do Palco Sunset, neste segundo dia, contou com a apresentação das bandas Pato Fu e Penélope, ambas lideradas por mulheres (Fernanda Takai e Érika Martins); o guitarrista americano Christone Kingfish Ingram; a banda americana pioneira do indie rock James; e, por fim, o último show da reunião da banda NX Zero.
Estranha foi a frieza com que a plateia reagiu às imagens de Chorão (1970-2013) no telão. Ídolo de uma geração, ele gravou com o NX Zero a canção Cedo ou Tarde. "Vamos fazer barulho para o Chorão aí", pediu o vocalista Di Ferrero, antes de terminar a música. Nem sempre os ídolos permanecem os mesmos.