Prestes a ser homenageada pela Mangueira — escola de samba da qual participa há 50 anos — no enredo A Voz Negra do Amanhã, Alcione, 76 anos, fez um balanço de sua carreira em entrevista ao Jornal Nacional nesta quinta-feira (8).
A Marrom, como é nacionalmente conhecida, relembrou a origem do apelido, dado por um amigo.
— Eu nunca desgostei, só deixei para lá. Tinha um amigo meu que nós viajamos pro nordeste inteiro de Komi para fazer shows. Eu ganhava cinco cruzeiros por show. Eles já eram famosos, então era sucesso certo. Um dia ele disse que eu parecia com a mulher dele: "Vou te chamar de marrom por causa dela". O apelido ficou, eles morreram e o apelido ficou comigo — explicou.
Natural de São Luís, Maranhão, Alcione contou que o estado natal "moldou uma pessoa que acredita em Deus e que respeita os mais velhos", o que a influenciou a ser a artista de hoje.
A Voz Negra do Amanhã
No ano em que a artista completa 50 anos de participação ativa na Mangueira, a escola de samba desfila com o enredo A Voz Negra do Amanhã, em homenagem a Alcione e a sua relação com a Verde e Rosa. Em 1987, a artista criou A Mangueira do Amanhã, projeto em parceria com a comunidade local que tem como objetivo inserir crianças e adolescentes ao meio carnavelesco.
— Como pessoa, eu me achei na Mangueira. Aqui que eu queria me divertir, brincar, me dedicar — contou Alcione sobre sua relação com a escola de samba. — Criei a Mangueira do Amanhã porque as crianças andavam muito sem fazer nada. Eu sou alguém daquela comunidade, pertenço e não tem jeito.
A artista aprovou o samba que será apresentado ao público na segunda-feira (12), com temas que abordam jazz, esperança, amor e valores.
— Esse samba é muito bom. Quando eu li a sinospe e ouvi o samba, eu disse: "É ele, é o cara mesmo". É muito bom o samba e o povo vai cantar na avenida — garantiu a cantora.
Em acordo com a representação das mulheres na escola e os temas raciais defendidos por ela durante sua trajetória, Alcione pontuou que o "samba é uma arma para qualquer mulher mangueirense".
— Para isso existe a força feminina do samba, que começou com Dona Zica e dona Neuma. Hoje tem Evelyn Bastos, várias pessoas. A força feminina no samba é muito forte. Não dá para falar em samba, sem falar em mulheres.