Yamandu Costa está sempre indo e voltando. Nascido em Passo Fundo, o gaúcho morou no Rio de Janeiro por mais de 20 anos e, em 2019, partiu de mala e cuia para Portugal. Apesar do distanciamento geográfico, nunca deixou para trás o pago rio-grandense. O violonista está sempre lá e cá, tendo o devir como um dos traços mais marcantes de sua música, atravessada pelas diferentes referências que encontra pelo caminho. Exemplo disso é o novo disco de Yamandu, Ida e Volta, que será apresentado em primeira mão ao público porto-alegrense neste sábado (9), às 20h, e no domingo (10), às 18h, em espetáculos no Theatro São Pedro.
Composto por 14 faixas autorais, o álbum deve chegar às plataformas somente em fevereiro de 2024. Assim, quem comparecer às apresentações no São Pedro terá a privilegiada oportunidade de conhecer as composições da obra antes do público geral. Também será possível adquirir antecipadamente a versão física do disco — uma prática que o artista ainda faz questão de manter.
Yamandu diz que os espetáculos (e as "regalias" que os acompanham) foram planejados carinhosamente por ele, como forma de retribuir o efeito energizante que o Rio Grande do Sul lhe causa.
— Estar aqui é sempre um encontro com a minha verdade, uma oportunidade de me reconectar com quem sou — diz o músico. — Eu sinto falta do humor gaúcho, dos meus amigos, da comida, do sentimento de estar em casa. Sinto saudade até do cheiro de Porto Alegre aos domingos, com a cidade cheirando a churrasco. Ao mesmo tempo em que sou um cidadão do mundo, sou muito gaúcho. Gosto de me sentir esse ser híbrido.
Como um ser híbrido, Yamandu carrega uma obra que tem a mesma característica. Munido de seu violão sete cordas, o músico circula por diferentes gêneros e compõe faixas que são ao mesmo tempo gaúchas, latino-americanas e universais. Não saberia fazer música de outro jeito, pois, para ele, a própria identidade do gaúcho remonta a uma certa hibridez:
— O gaúcho é híbrido, um latino-americano por essência, povo que fala a língua da erva-mate e existe no Brasil, no Uruguai e na Argentina. Percebo que essa hibridez é muito verdadeira na minha música e na minha identidade.
Ida e Volta está conectado a tudo isso. O novo disco de Yamandu Costa traz canções inspiradas nos chamados cantes de ida y vuelta. A nomenclatura é usada para englobar um aporte de cantos clássicos espanhóis que foram parar na América Latina em meio ao processo de colonização e voltaram transformados para a Espanha.
Como conceito, eles simbolizam a trama de referências compartilhadas da música ibero-americana — algo que tem tudo a ver com a obra de Yamandu.
— A intenção foi falar sobre essa influência ibero-americano que está sempre indo e vindo, inclusive entre os países da América Latina. Eu diria que as músicas são todas latinas, falam de diferentes regiões do nosso continente, mas têm a vontade de ser desses cantes de ida y vuelta, pois bebem das fontes ibero-americanas — explica o músico.
Sem planos de tirar férias
Yamandu destaca, ainda, que o conceito do disco está em sintonia com o momento que ele vive agora em sua vida pessoal. Após alguns anos sem imóveis na cidade, o músico comprou um apartamento em Porto Alegre e, com isso, poderá estar ainda mais em ida y vuelta.
— Estou voltando a ter uma casa no Brasil, mas não a viver no Brasil. Ou seja, essa volta, na verdade, diz respeito à possibilidade de estar no país sempre que eu quiser — analisa ele. — Eu acho isso interessante, porque não se trata de uma volta porque as coisas não deram certo. Pelo contrário: a minha mudança para Portugal foi muito certeira, minha residência fixa continuará lá, mas terei a possibilidade de dividir o meu ano em temporadas lá e cá — explica.
Com isso, o violonista também poderá estar mais próximo da Escola Pública de Música Yamandu Costa, inaugurada neste ano em Passo Fundo, terra natal dele, como uma homenagem. Yamandu diz encarar a reverência como uma grande responsabilidade e comemora que o projeto já esteja impactando a positivamente a comunidade local.
— É espetacular fazer parte de algo que é muito maior do que você. Ainda mais por ver que o projeto está andando e trazendo luz para a vida das crianças. Acho que a música não precisa virar uma profissão para todos, não precisamos criar um exército de músicos, mas ela tem que fazer parte da formação das pessoas — defende Yamandu.
Ele define a cerimônia que marcou a inauguração da escola de música como "o momento mais importante do ano". Um ano que, Yamandu reconhece, "está merecendo ser comemorado". Foram muitos os feitos do artista em 2023: três discos lançados e quase 20 países percorridos para apresentações.
Agora, aproveitando a ocasião dos shows em Porto Alegre, ele passará as festas de final de ano e parte de janeiro no Rio Grande do Sul. Mas nada de tirar férias. Ainda nos primeiros meses de 2024, Yamandu planeja lançar ao menos outros quatro discos. Ao que tudo indica, será mais um ano para se comemorar.
— Eu já desisti de tirar férias. Até porque a primeira coisa que eu coloco na mala é o violão — diverte-se. — Para mim, a produção é como a respiração, não tem como parar. A música é o meu alimento, o que me dá vontade de seguir.
Yamandu Costa em "Ida e Volta"
- Neste sábado (9), às 20h, e domingo (10), às 18h, no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n), em Porto Alegre.
- Ingressos disponíveis no site do teatro, a partir de R$ 120 (inteiro).