Sentado na plateia de um Theatro São Pedro vazio, Duca Leindecker dedilha seu violão em uma sessão de fotos. Com 40 anos de carreira completados em 2023 — o que inclui momentos com Bandaliera, Cidadão Quem, Pouca Vogal e trajetória solo, além de palcos como Rock in Rio, Planeta Atlântida e a abertura para Bob Dylan no Gigantinho —, o músico afirma que há algo que ainda o empolga:
— Como é boa a acústica do São Pedro!
O público que for nesta sexta-feira (15) ao teatro poderá comprovar o que Duca exclama. Somente com sua voz e o violão, ele sobe ao palco às 20h, diante de uma casa cheia (restam poucos ingressos). Antes, o cantor e compositor caxiense Rafael Witt promoverá um esquenta com seu repertório folk.
O show marca o lançamento do álbum Pedidos, que chegou às plataformas digitais no dia 8 e também ganhou uma versão em vinil. Além dos sucessos que integram o disco, Duca abrirá um momento na apresentação para tocar o que o público solicitar.
O projeto de Pedidos tem origem na pandemia, quando ele começou a contemplar músicas requisitadas pelos fãs em lives e publicações no Instagram. Geralmente, o cantor interpreta as solicitações em registros caseiros, utilizando o violão que pertencia a seu avô — o mesmo em que aprendeu a tocar.
— Aprendi bossa nova e passei a me apresentar nos bares de Porto Alegre já com 13 anos — diz. — Então, juntei essa coisa de tocar com o violão do meu vô, de ter essa coisa da bossa nova, com os pedidos. Também trazia alguma canção do meu agrado. Isso foi ficando tão legal que resolvi fazer um show dessas solicitações.
Os fãs pedem muitas faixas lado B do Cidadão Quem e dos trabalhos solos de Duca. Para o cantor, é interessante o volume de pessoas que pedem músicas de que nem ele mesmo lembra.
— Estava fazendo uma live para chamar para o lançamento do Pedidos, e a minha esposa, Manu (Manuela d'Ávila), me pediu Eu e Você, uma música do 7 (2007), da Cidadão Quem. É um disco importante, o último da banda. Só que eu não conseguia nem começar a tocar — recorda. — Dou uma estudada na discografia, às vezes consigo atender a pedidos bizarros. Mas o legal é a espontaneidade e a tentativa de lembrar. Tem vezes em que não toco tão perfeitamente, mas tento apresentar a música que eu mesmo criei (risos).
Bossa nova e música popular gaúcha
Pedidos foi gravado ao vivo, em duas apresentações realizadas no começo de 2023 — em Porto Alegre e Caxias do Sul. Entre as 11 faixas, há clássicos como Dia Especial, Pinhal, Girassóis e O Amanhã Colorido. Conforme o músico, o repertório do álbum é uma mistura das mais pedidas de todos os tempos com o que se pediu na hora do show. O canal oficial do cantor no YouTube traz ainda dois vídeos com faixas-bônus — as releituras de Desafinado, composição de Tom Jobim e Newton Mendonça imortalizada por João Gilberto, já disponível no canal, e Fly Me to the Moon, de Bart Howard, que vai entrar na semana que vem.
Porém, há um pedido do próprio Duca no disco, que é um dos pontos altos do ao vivo: Armadilha, de Nelson Coelho de Castro. Para o cantor, a música carrega um simbolismo especial para sua trajetória.
— Quando comecei a tocar violão e fui para a noite, meu repertório era bossa nova e MPG (música popular gaúcha). Tocava Nelson Coelho de Castro, Nei Lisboa, Bebeto Alves, Gelson Oliveira, Kleiton e Kledir, músicas do pessoal das Califórnias (da Canção Nativa) — explica. — Armadilha me marcou bastante, pois é linda e bem melancólica. Sempre lembro que um colega tocava direto essa música na aula.
Aliás, Pedidos é um show intimista, com o espírito de banquinho e violão, inspirado no início da carreira de Duca. Presta referência ao tempo em que ele se apresentava no Charlott Bar, localizado na Rua 24 de Outubro, em Porto Alegre. O músico diverte-se lembrando que as pessoas falavam tão alto no estabelecimento que mal dava para tocar. De qualquer maneira, o importante era estar no palco.
Outro elemento importante de Pedidos é a bossa nova: Duca assume inspirações de João Gilberto tanto na estética quanto em sua disposição no palco. Faixas como Pinhal e Jimi ganharam releituras em bossa no ao vivo. De acordo com o músico, essa sonoridade foi crucial para a sua formação:
— Sou muito influenciado pela harmonia da bossa nova. Muita gente reclama que é difícil tocar minhas músicas por causa dos acordes, mas é essa influência da bossa nova, que potencializa o que há de mais natural nela.
Novo disco deve sair no ano que vem
Lançado Pedidos, Duca planeja realizar mais shows no formato em 2024. Por enquanto, está em Porto Alegre só de passagem. Aos 53 anos, ele tem vivido em Charlottesville, nos Estados Unidos, acompanhando sua esposa, que faz doutorado em Políticas Públicas. Por lá, tem aproveitado para produzir bastante, especialmente as músicas de seu disco novo — segundo Duca, está bem adiantado e deve sair na metade do ano que vem.
Além disso, o músico planeja celebrar os 20 anos do DVD Cidadão Quem no Theatro São Pedro, que é tido como um marco para a banda. Antes de tudo, a parada nesta sexta é no mesmo teatro onde Duca subiu ao palco tantas vezes.
— É um lugar privilegiado — ressalta. — Principalmente pela acústica, mas também pela beleza e pelo conforto. É diferente do barzinho (risos).
Duca Leindecker em "Pedidos"
- Nesta sexta-feira (15), às 20h, no Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº), em Porto Alegre.
- Ingressos a partir de R$ 70 pelo site do teatro.