O músico Marco Antonio de Figueiredo Luz, conhecido como Fughetti Luz, morreu às 4h30min desta sexta-feira (14), aos 76 anos. Referência do rock gaúcho, ele foi vocalista e compositor das bandas Liverpool e Bixo da Seda.
Amigos e familiares devem se despedir do artista no velório que será realizado a partir das 10h deste sábado (15), na capela 5 do crematório Saint Hilaire. Já a cerimônia de despedida será às 14h, no mesmo local.
Após a notícia ser confirmada, nesta sexta-feira (14) pela manhã, fãs, amigos e familiares passaram a se despedir e a publicar homenagens em suas redes sociais.
GZH convidou alguns músicos e especialistas da área para falar da importância da obra do roqueiro no cenário musical. Confira!
Duca Leindecker – músico, cantor e compositor
— Eu tinha 15 anos quando fui escolhido pelo Fughetti para fazer parte de sua “troupe”. Eram os anos da minha formação musical. Tempo de buscar referências…"Homem que caminha nas calçadas. Fruto dessas novas pedras e dos momentos. Pense que o mundo está dentro de si. Numa sensação que o mundo está ao seus pés. Sua vida de homem comum. Desgaste em seu rosto, realidade. Toda agitação de uma cidade. E o costume fácil do prazer. E a vontade louca de viver. Viver e amar até morrer. Assim continua na certeza. Que sua pecável vida vai mudar. Pela mão do homem descobriu. Centenas de roupas em cores de festa. Nessa absurda realidade. Na margem do caminho, quer se encontrar. Na necessidade de estar legal. De passar por tudo aquilo que ainda não passou. Oportunidade, de provar. De tudo nessa vida seja como for". A beleza dessa música me pegou de jeito e passei a respirar Fughetti Luz. Obrigado, Fuga. A vida foi tão bonita com tua presença. E continuará sendo por tudo que deixas em nós. “Fazer vibrar os sentidos / De uma nova consciência / Que vem junto da aurora". Te amo, Fuga. Obrigado por acreditar em mim e nos dar tanto.
Gilmar Eitelwein - jornalista e autor da biografia "Fughetti Luz, o Rock Gaúcho"
— O Fughetti foi uma luz que atravessou nosso tempo, um cara iluminado, compositor dos mais importantes da história do rock gaúcho e brasileiro. Suas canções sempre abordaram a necessidade de o homem universal viver em paz e com alegria junto aos seus, sem ambições materiais e com solidariedade. Foi um dos últimos brasileiros que carregavam a chama dos ensinamentos da contracultura dos anos 1960, da geração que buscou viver tempos de paz e amor e que teve no Festival de Woodstock seu ápice. Ele é autor de clássicos do rock, como Campo Minado, Nosso Lado Animal, Tocha, Xeque Mate, Alquimia e tantos outros. "Verdade, quanta mentira em teu nome/Ignorância e fome/Guerras e religiões..." (Tocha). "Quero ficar e lutar/Por um pouco de paz dentro dessa guerra/Tenho que reanimar/Toda essa juventude, senão já era" (Alquimia).
Arthur de Faria - jornalista, pesquisador e autor do livro "Rock em Porto Alegre - Uma Biografia Musical"
— Entre tantos feitos, creio que o mais impressionante da obra do Fughetti foi junto ao Liverpool. Para mim e para muita gente, é o melhor disco do rock gaúcho de todos os tempos, inclusive quando houve eleição da revista Aplauso, ele ficou em segundo lugar, atrás apenas a Sétima Efervescência, do Júpiter Maçã. É um disco cultuado por amantes da psicodelia do mundo inteiro. Saiu no Japão e na Alemanha. O Liverpool não devia nada a outras bandas psicodélicas do extremo sul, como Mutantes em São Paulo, Los Shakers no Uruguai, e o Almendra, na Argentina (que não era exatamente psicodélico). O Liverpool está no mesmo nível dessas grandes bandas do rock da América do Sul dos anos 60/70.
Marcelo Truda - guitarrista
Muito triste perder um amigo e um ídolo. Infelizmente essa próxima década deve levar alguns dos nossos ídolos que estão fazendo 80 e 90 anos, então serão tempos difíceis e tristes para nós que somos do rock. O Fughetti foi um dos caras que me fez tocar guitarra e ser músico. Ele e o Mimi me fizeram escolher essa profissão. Ficamos amigos e ele gravou vários discos e CDs e, casualmente, o último CD, Tempo Feiticeiro, de 2017, ele me convidou a produzir. Ele já estava bem debilitado, eu o carregava até a sala da casa dele, onde montamos o estúdio. Ele ia, cantava uma música, voltava, descansava... Ficamos um mês nesse ritmo. Reunimos um grupo de músicos excelente e ficou esse último relato. Para mim, foi muito legal, gravar e produzir um CD de um ídolo. É sem palavras o quanto eu admiro e o quanto estou triste. Mas ele vai continuar aqui com a gente. A obra dele está aqui.
Alemão Ronaldo - roqueiro gaúcho
Morreu o inventor do rock gaúcho. Acompanho o Fughetti desde que eu era adolescente. Quando ia nas reuniões dançantes, ele já tocava. Depois, em 1982, começamos a trabalhar com ele, que escrevia músicas para a Bandaliera. Ele era remunerado como se fosse integrante da banda, pois na época era difícil ele receber pelos direitos autorais. Foi marcante trabalhar com um ídolo. Ele me mostrava algumas composições, anotadas nos caderninhos dele. Ele deixa um legado grande para tantas bandas que começaram procurando por ele. Ele sempre foi um cara muito requisitado. O Fuga era um cara alegre e brincalhão nas viagens, com a banda, todo mundo gostava e admirava ele. É uma perda grande para todos nós do rock gaúcho. E ele deixa um trabalho reconhecido em todo o Brasil, para a nova geração se inspirar.
Juarez Fonseca - Colunista GZH
Fughetti Luz foi o coração e a garganta de duas bandas fundadoras do rock gaúcho – e, por extensão, brasileiro. O Liverpool nos anos 1960 e o Bixo da Seda nos 70. Vê-lo no palco com aqueles longos cabelos escorridos (que manteve até o fim) e um pandeiro na mão, superando os limites físicos impostos pela poliomielite, era emocionante e enriquecedor. Fughetti nasceu para ser cantor de rock, ele encarnava o próprio rock'n'roll. Podemos saber disso ainda hoje, 50 anos depois, ao ouvir os dois deixados pela bandas, os três solo gravados por ele e os álbuns de grupos alimentados por suas músicas, o Guerrilheiro Anti-Nuclear e a Bandaliera. Uma música tão vigorosa quanto envolta em letras de filosofia hippie (paz e amor) e humanista. Fughetti foi um grande, e se foi isso, assim seguirá. Lembro detalhadamente da tarde ensolarada de setembro de 2015 em que me recebeu em sua casa. Eu fora entrevistá-lo para Zero Hora, pois há muito não se tinha informações sobre sua vida de "exilado" em Tapes. Foi uma conversa calorosa, simultaneamente musical e jornalística. Depois, algumas vezes falamos por telefone. Mas nunca mais o vi. A notícia desta sexta-feira me abateu como abate a morte de amigos inesquecíveis.