No começo dos anos 1990, o Krisiun fez seu primeiro show em Porto Alegre no Colégio Marista Rosário, em uma manhã. Quando o trio de irmãos formado por Alex Camargo (baixo e vocal), Max Kolesne (bateria) e Moyses Kolesne (guitarra) começou a destilar peso e visceralidade, houve estranhamento. A molecada começou a cobrir as orelhas com as mãos e passou a chispar dali. Tudo bem, logo não faltariam ouvidos para aquele som.
Corta para mais de 30 anos depois. Com seu brutal death metal, amparado pelo ritmo veloz e toque agressivo no instrumental e no vocal, o Krisiun angariou seguidores e reconhecimento em várias partes do globo. A banda constantemente excursiona para o Exterior, já tendo tocado em todos os continentes. É difícil achar um artista saído do Rio Grande do Sul que tenha percorrido tanto o mapa-múndi quanto o Krisiun.
Neste domingo (26), o trio retorna a sua cidade natal. O grupo se apresenta no Opinião a partir das 20h30min, com abertura da casa às 19h (veja detalhes ao final do texto).
Para o Krisiun, voltar a Porto Alegre costuma ser um reencontro com a antiga casa e com velhos amigos. Os irmãos são naturais da capital gaúcha, mas vivem em São Paulo (SP) desde 1992. Nos anos 1980, a família se mudou para Ijuí, no Noroeste do Estado, onde o embrião do Krisiun começou a tomar forma. Quando voltaram para Porto Alegre, o projeto da banda se firmou em 1990.
Após algumas apresentações por aqui, o grupo encheu uma mochila com a demo Mortal Toxicity (que contém um cover espetacular de Eu Sou Terrível, de Roberto Carlos) e partiu para uma aventura em São Paulo. Max lembra que o trio não tinha muita perspectiva no começo, mas como eram jovens e muito focados, nada iria impedi-los de perseverar.
— Chegamos em São Paulo, alugamos uma quitinete e nos viramos. Fazíamos bico, dávamos aula de bateria e guitarra. Um pessoal também abraçou a causa do Krisiun, ajudando a divulgar e a marcar show — recorda o baterista. — Tocávamos em tudo que era buraco. Aos poucos, fomos tendo uma legião de seguidores, e a coisa foi se solidificando. Mas até conseguir contrato com agência e gravadora…
Foi o disco de estreia, Black Force Domain (1995), que abriu as portas do Krisiun para o mundo. Cru e explosivo, com influências de Morbid Angel e Slayer, a banda estabeleceu seu estilo, que ganharia maturação ao longo dos anos até chegar a Mortem Solis, 12º álbum, que será apresentado neste domingo.
Lançado em 2022, Mortem Solis traz um Krisiun mais brutal e direto, mas não necessariamente menos trabalhado, até por conta de seus riffs complexos. Segundo Max, o trio se encontrava em um momento de fúria no momento da elaboração do álbum.
— Estávamos cheios de ódio com aquela fase bizarra do Brasil, vendo tanta atrocidade e mentira. A ascensão de idiotas e fascistas. Isso nos influenciou, dando uma motivação a mais para fazer um som bem agressivo — contextualiza o instrumentista.
Conforme os irmãos, Mortem Solis também pode ser encarado como um contraponto ao viés "comercial" do metal, contra o qual o Krisiun sempre se posicionou desde o começo. Max ressalta que esse cenário sempre teve seus momentos do que classifica como modismos e falsidade.
— Viemos de uma escola que preza e prega o metal verdadeiro. Ouvir os discos e ver o show ao vivo do Krisiun é a mesma coisa. Hoje em dia, as bandas usam muitos artifícios no estúdio para fazer uma coisa maquiada e perfeita. Muitas bandas não têm mais a essência, aquele feeling de garagem, de se reunir e fazer um som junto. Somos uma banda que tenta manter essa verdade – explica.
Além de trazer faixas de Mortem Solis, o Krisiun repassará sua discografia no palco do Opinião, desde Black Force Domain. Como define Max, a galera que vai ao show da banda quer ver as "podreiras antigas".
Viagens e irmãos
Para o restante do ano, o Krisiun tem previsto mais shows pelo Brasil, mas logo vai ao Exterior. A agenda inclui passagens pela Argentina, turnê entre março e abril pelos Estados Unidos com as bandas Vader e Decrepit Birth, além de apresentações pela Europa no meio do ano. Assim que fecharem o ciclo de shows, eles começam a compor para um novo álbum. Afinal, ao contrário daquela apresentação no Rosário, há sempre ouvidos atentos ao que o trio tem a estraçalhar.
De qualquer maneira, são mais de três décadas em que os três irmãos dividem a estrada e os céus ao redor do globo — algo que se repete em mais um ano. Para Max, estar numa banda há tanto tempo assim e com seus irmãos é a melhor escola da vida que poderia ter.
— Nós brigamos, mas também aprendemos. Estamos sempre firmes juntos. São os meus melhores amigos. Isso faz com que a banda nunca se separe. São minhas inspirações como músicos e seres humanos. Seguramos a mão um do outro e seguimos em frente. Acho que é por isso que a gente nunca perde a inspiração, o desejo e o tesão de tocar — arremata.
Krisiun
- Neste domingo (26) no Opinião (Rua José do Patrocínio, 834), em Porto Alegre.
- Abertura da casa: 19h. Show de abertura: 19h30min. Krisiun: 20h30min.
- Ingressos: a partir de R$ 170 (inteiro). Entrada solidária a R$ 95 mediante a doação de 1kg de alimento não perecível.
- Desconto de 50% de para sócio do Clube do Assinante e acompanhante.
- Ponto de venda com taxa: pelo site da Sympla. Ponto de venda sem taxa: Loja Planeta Surf Bourbon Wallig (Av. Assis Brasil, 2.611 – Loja 249, das 10h às 22h).