Presença em festivais badalados, shows lotados pelo país e um disco novo em evidência. Fundada em Porto Alegre, mas radicada em São Paulo há mais de 15 anos, a Fresno vive um momento especial em sua trajetória de mais de duas décadas. Nenhuma banda saída do Rio Grande do Sul atingiu esse patamar após tamanha longevidade, ainda mais em seu nono disco de estúdio.
Celebrando o melhor ano de sua carreira, a Fresno fecha 2022 com show no Auditório Araújo Vianna, a partir das 20h, neste domingo (18). Restam poucos ingressos, e a banda deve repetir o feito de abril, quando abriu a turnê do álbum Vou Ter Que Me Virar com o mesmo espaço lotado.
Segundo Lucas Silveira (vocalista e guitarrista) — completam o grupo o baterista Thiago Guerra e o guitarrista Gustavo "Vavo" Mantovani —, as apresentações na capital gaúcha carregam aquele significado de retorno ao lar. Algo como “de volta para a minha terra”, como dizia aquele antigo quadro do programa Domingo Legal.
— É um show sempre cheio de amigos, que vai a família. Tem uma energia diferente. Acho que fechar este ano com um show em Porto Alegre vai ser muito especial, pois esse, sem dúvida, foi o melhor ano da banda. Crescemos muito, aconteceram várias coisas legais — avalia Lucas.
Na turnê, a banda costuma tocar alguns clássicos de discos anteriores, como Quebre as Correntes e Diga, Parte 2, mas o repertório foca majoritariamente o último disco. Lançado no final de 2021, Vou Ter que me Virar dá continuidade a Sua Alegria Foi Cancelada (2019), explorando diferentes sonoridades — do eletrônico à balada, do punk rock ao pop. Além da faixa-título, entram músicas como Casa Assombrada e Já Faz Tanto Tempo (essa foi gravada em parceria com Lulu Santos).
É um caso pouco comum no rock: chama a atenção que uma banda com mais de 20 anos de estrada disponha de tamanho destaque com o álbum mais recente. Nas apresentações da Fresno, o público tem cantado as músicas novas com a mesma intensidade das antigas.
— Normalmente, um grupo com a nossa idade costuma fazer show focado nos hits antigos. No nosso caso, não — observa Lucas. — Conseguimos fazer coisas novas entrarem na cabeça dos fãs. Também isso permite que o cara fique acompanhando a banda por muito tempo, que não seja só um negócio que ele curtia na adolescência e voltou a ouvir agora porque está com saudades.
A Fresno sempre teve seu público cativo, mas tem atraído novos simpatizantes de uns tempos para cá. Voltou a sair da bolha. Um primeiro passo para isso foi a expansão estética que a banda realizou com Sua Alegria Foi Cancelada.
No decorrer da pandemia, Lucas promoveu uma live chamada Quarentemo, que chegou a ser assistida por 100 mil pessoas simultaneamente — número visto como expressivo, digno de artista sertanejo em evidência. Foi então que a banda percebeu o seu tamanho. Segundo o músico, aquilo deu força para o disco novo, que pudesse ser explorado comercialmente, contendo músicas com a simplicidade suficiente para que o Brasil inteiro pudesse cantar.
— O povo não se lembrava mais da gente. Pessoas paravam a gente na rua e indagavam: "E aí, a banda ainda existe?". Estava nesse clima — brinca Lucas. — Já tivemos momentos em que a gente buscava ter algumas façanhas pelo lado musical, do tipo "quero fazer um disco orquestrado" ou "fazer uma música comprida e com várias partes". Cheguei em um momento aqui em que quero me comunicar da maneira mais ampla possível, mas nunca perdendo as raízes ou deixando nosso som genérico.
Em 2022, a banda rodou o país e participou de grandes festivais como Rock in Rio e GP Week — em São Paulo, no Allianz Parque —, mas foi com o show no Lollapalooza Brasil que a Fresno estampou capas de jornais e de portais de notícias. Na apresentação realizada em março, na capital paulista, Lucas soltou um "fora, Bolsonaro!" e o telão do show também exibiu o lema pedindo a saída do presidente. Naquela ocasião, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou uma decisão proibindo críticas ou defesas de candidatos no festival, porque poderia configurar campanha eleitoral antecipada.
Para Lucas, a banda cumpriu um papel de cidadão, tendo a "consciência limpa" por ter lutado contra "uma coisa bastante nefasta na política". Porém, aquele show do Lolla vai além da repercussão política. Era o primeiro que a banda realizava após a pandemia e, como frisa o vocalista, colocou-a de volta para um mapa de público. Foi uma conjunção de fatores:
— O show quase não acontece por causa da chuva. Tiveram que evacuar o festival. Foram canceladas algumas apresentações antes da nossa. Quando o público foi liberado novamente para entrar no festival, foi justamente a hora em que a gente começou a tocar. Foi um momento em que todo o público do Lolla só tinha um lugar para ir. Enchemos nosso palco. Também aconteceu que quando começou a transmissão do Multishow, só tinha a gente também. Aquilo ali nos colocou de maneira muito forte.
Para 2023, a banda ainda planeja visitar mais algumas cidades com a turnê do último disco. Também almejam mais alguns festivais. Ao mesmo tempo, Lucas ressalta que segue compondo sem parar. Ele destaca que ainda haverá um álbum para fechar a trilogia iniciada com Sua Alegria Foi Cancelada.
— Desde o meio desse ano, começaram a surgir músicas novas, que vamos catalogando e gravando devagarinho, que é para já ir pensando no próximo momento da banda. Então, no próximo ano tem coisa nova saindo, sim — garante Lucas.
Fresno
- Neste domingo (18), às 20h, no Auditório Araújo Vianna (Avenida Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
- Abertura da casa: 18h30min.
- Classificação: 14 anos.
- Ingressos: a partir de R$ 150 (inteiro) ou R$ 80 (solidário). Restam poucas entradas.
- Ponto de venda sem taxa: Loja Planeta Surf Bourbon Wallig (Av. Assis Brasil, 2.611), das 10h às 22h.
- Ponto de venda com taxa: pelo site Sympla.
- Desconto de 50% sobre o valor inteiro para sócios do Clube do Assinante e acompanhante.