Na noite deste sábado (23), o Auditório Araújo Vianna vai ganhar ares de Shopping Total nas quintas-feiras, ponto de encontro clássico dos emos porto-alegrenses em meados dos anos 2000. O clima nostálgico é trazido pela banda gaúcha Fresno, que se apresenta na casa de espetáculos depois de mais de dois anos sem passar pelos palcos de Porto Alegre.
A última vez que os músicos tocaram por aqui foi em outubro de 2019, na ocasião do lançamento do álbum Sua Alegria Foi Cancelada, no Opinião. Agora, voltam à capital gaúcha para começar a turnê de Vou Ter que me Virar, disco de 2021 que aborda as inquietações da pandemia e foi lançado justamente com a banda se virando durante o período pandêmico e lidando, mais uma vez, com a saída de um membro — o tecladista Mario Camelo, que deixou o grupo em agosto.
O repertório do show que marca esta nova fase da Fresno, com o vocalista Lucas Silveira, o guitarrista Vavo e o baterista Thiago Guerra, tem as faixas do trabalho atual como espinha dorsal, mas mescla também alguns clássicos dos últimos 22 anos. Alguns porque, confessa Lucas, tem sido difícil selecionar o que é clássico dentro do universo de músicas da Fresno, com dezenas de composições marcantes para os fãs.
— Esse é um show que retrata a fase atual da banda e que também contextualiza essa fase atual, com as coisas que fizeram a gente ser quem a gente é — resume.
Porto Alegre é uma dessas coisas. Por isso que iniciar a turnê aqui, depois de dois anos de pandemia, tem um significado especial para os roqueiros. Sobretudo pelo fato de o show ser no Araújo Vianna, espaço que, segundo o vocalista, abriga o triplo do público que a banda costuma reunir aqui, mesmo depois de cair nas graças do restante do país.
Todos os assentos do auditório já estão esgotados (até o fechamento da reportagem, os únicos ingressos ainda disponíveis eram nos setores laterais, com público em pé, e na categoria mesas bistrô, na parte superior). Será uma apresentação praticamente lotada, em nada menos do que um dos locais mais prestigiados da cena cultural da cidade. E tudo isso depois de um show histórico da banda no Lollapalooza 2022.
Inevitavelmente, isso faz lembrar de quando fazia frio em Porto Alegre toda noite e a Fresno travava batalhas para ter quórum em antigos points como a Croco, na Plínio Brasil Milano, ou o Garagem Hermética, na Barros Cassal.
— Acredito que a Fresno está no melhor momento da história da banda. Em termos de venda de ingressos, de procura, de buzz na internet, estamos vivendo a melhor fase de todas. E esse show, por ser em Porto Alegre, por ser na nossa casa, é um ciclo muito forte dando mais uma volta. Sabemos onde já tocamos, para quantas pessoas já tocamos, tudo o que já aconteceu aqui. Isso também passa na cabeça do fã. Ele viu a gente lá na Croco em 2006 — reflete o vocalista.
Longevidade
Mas o que faz uma banda emo — movimento que estourou no início dos anos 2000 ancorado no sentimento de inadequação da geração que alcançava a juventude naquela época, mas perdeu um pouco do hype ao longo dos anos —, originária fora do eixo musical do sudeste, ainda viver momentos como esse?
Para Lucas, o segredo é a constante reinvenção proposta pela Fresno, que nunca deixou de lado suas origens, mas também nunca se permitiu ser refém daquilo que esperam dela.
— Não tem como ficar 20 anos fazendo sempre a mesma coisa sem virar um saco — sentencia. — A gente causou de propósito várias quebras de expectativa para que hoje pudéssemos ser livres no que fazemos, para poder abraçar qualquer sonoridade que estejamos a fim de abraçar.
Assim, a Fresno se manteve fiel ao emo que a acompanha desde os inferninhos de Porto Alegre e, consciente de que o mundo em que está inserida hoje é diferente daquele do início dos anos 2000, conseguiu dialogar também com novos públicos. Exemplos disso são os últimos dois álbuns da banda, que ultrapassam o escopo do emocore e exploram sonoridades extremamente diversas, do arrocha ao eletro.
É um mix disso tudo que se deve encontrar neste sábado no Araújo Vianna. No palco, uma banda consciente do momento único que vive e dos passos que a fizeram chegar até ele. Na plateia, um público disposto a lotar qualquer lugar para cantar Fresno a plenos pulmões, de Quebre as Correntes a Casa Assombrada.
— É difícil não ficar impressionado com o que o público faz no nosso show. A gente é uma banda normal, a galera que é f*** — diz Lucas.
Fresno em Porto Alegre
- Sábado (23), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
- Ingressos a partir de R$ 140 (inteiro) ou R$ 80 (solidário, mediante a doação de um quilo de alimento não perecível no local), disponíveis na plataforma Sympla. Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante (sobre o preço do ingresso inteiro).
Ouça a entrevista de Lucas Silveira para a Rádio Gaúcha concedida nesta quinta (21):