"E só com uma voz e uma guitarra eu fiz / Parar a rua inteira, parar a rua inteira / Vim tocar pra ti uma canção que te escrevi." Com esses versos, que compõem o refrão de Lote B (Pedro da Silva Martins/Luís José Martins), do disco Voz e Violão, o nono do português António Zambujo, o artista já anuncia como será o seu show em Porto Alegre nesta quinta-feira (4), a partir das 21h, no Teatro do Bourbon Country.
O novo álbum do cantor e compositor, que é foco de sua turnê pelo país — após adiamentos pela covid-19 —, é inspirado no nome de um dos discos que foram referência em sua vida, João Voz e Violão, que João Gilberto lançou no final do milênio passado. Mas o álbum ainda tem mais do Brasil: para o repertório de 13 faixas, Zambujo ainda fez questão de gravar a canção Como 2 e 2, de Caetano Veloso.
Porém, o artista, em entrevista a GZH, destaca que quem for ao seu espetáculo nesta quinta-feira ouvirá também canções de outros álbuns seus, em um show único, que vai se construindo conforme o clima do auditório:
— O show tem por base o último disco, mas nunca é exclusivamente apenas o último disco. Tem uma mistura com outros temas e até é meio improvisado um pouco em função da plateia, do dia. Não existe um roteiro fixo, eu gosto de deixar uma música puxar a outra e, às vezes, vão surgindo ideias no momento, e eu canto.
Mesmo com um oceano de distância, o trabalho do português sempre teve fortes influências do cancioneiro brasileiro, em particular a bossa nova. Assim, a sua música, que começou com a tradição do fado e do cante alentejano — Zambujo é de Beja, na região do baixo Alentejo —, criou uma personalidade única e, segundo especialistas, gerou um novo ciclo da música portuguesa, mesclando todas as suas influências com um viés pop.
Um desses especialistas é justamente Caetano, que já vinha tecendo elogios a Zambujo há quase 15 anos, em seu antigo blog Obra em Progresso, escrevendo que ouvi-lo cantar é "de arrepiar e fazer chorar". Em 2016, em texto para o Estadão, novamente o baiano exaltou o português, desta vez para falar de Até Pensei que Fosse Minha, disco gravado apenas com canções de Chico Buarque e que lhe rendeu uma indicação ao Grammy Latino na categoria de melhor disco de MPB.
"No timbre e na prosódia lusitana de António as canções de Chico parecem postas numa perspectiva que dá ao brasileiro uma tomada de distância — no espaço e no tempo — que o leva às lágrimas, assustado que fica com a nova evidência da sua grandeza", salientou Caetano, mostrando que a relação Brasil-Portugal, pela voz de Zambujo, é de engrandecimento cultural para ambos os países.
— Tem muita influência da música popular daqui. A música que eu faço é uma mistura da música popular portuguesa e da música popular do Brasil. Então, acho que acabam por se identificar, mas não explicar o sucesso. É difícil encontrar uma explicação de por que as coisas acontecem — destaca o português.
Isolamento
Voz e Violão foi gravado durante a pandemia, quando Zambujo, que sempre tem uma agenda repleta de shows para fazer, não pôde estar na estrada. Assim, ele decidiu improvisar um estúdio em sua casa e tirar do papel o álbum que já vinha idealizando:
— Escolhi um conjunto de canções que eu achava que faziam sentido, misturando originais com clássicos de outros autores, alguns portugueses. E foi meio improvisado. Eu ainda não tinha os isolamentos nas paredes, aquelas coisas todas. Então, tive que colocar umas mantas penduradas, pedi microfone emprestado para o estúdio e umas coisas assim.
O álbum de Zambujo, então, carrega consigo a urgência do tempo em que foi gravado. Marcado pela simplicidade sonora, o disco aborda o amor, a falta dele e, sobretudo, a solidão. Voz e Violão, que conta com o artista cantando em português, espanhol e inglês, tem como destaque, além da já citada Lote B, a canção Visita de Estudo (dele e de Maria do Rosário Pedreira), com participação de seu filho mais velho, Diogo Zambujo.
Para o show de quinta-feira, a expectativa de apresentar este trabalho está alta para Zambujo, uma vez que esta é a primeira vez que pisa no Brasil em três anos — antes da pandemia, desde 2007, sua visita ao país era anual. Já o Rio Grande do Sul entrou no radar do português a partir de 2013 e, daqui, além dos amigos, como Yamandu Costa, ele ressalta que o que mais gosta é da obra de Lupicínio Rodrigues. E do churrasco, é claro.
Ao ser perguntado sobre o que seu público pode esperar da apresentação, Zambujo responde:
— É música, né? Essencialmente, é música o que eu tenho para dar.
António Zambujo – Voz e Violão
- Nesta quinta-feira (4), às 21h, no Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80), em Porto Alegre.
- Ingressos a partir de R$ 100, à venda em uhuu.com.
- Desconto de 50% para os 50 primeiros sócios do Clube do Assinante a adquirirem ingresso e de 10% para os demais.