Antes que tudo mais vá para o inferno, o músico Rafael Malenotti está praticamente no céu. O motivo é o show Tremenda Noite do Rei que ele e uma banda com mais 10 integrantes (com direito a sopros, metais e percussão) apresentam neste domingo (19), no Auditório Araújo Vianna. O objetivo é homenagear os 80 anos de dois dos maiores ídolos do cantor gaúcho: a dupla Roberto e Erasmo Carlos, ambos nascidos em 1941. O próprio idealizador do projeto explica o porquê de tantas emoções:
— A palavra devoção pode parecer forte, mas é isso mesmo o que sinto por esses caras. Em 2009, a primeira vez que encontrei o Tremendão, eu só ficava chorando. Ele até me apelidou de "cebola" por isso. Brincava que eu tinha uma cebola no bolso, que ficava colocando a mão e passando nos olhos. Depois de tirar uma onda, ele falou que o que eu demonstrava era sensibilidade. O cara faz jus à expressão gigante gentil — recorda Malenotti, sem nenhuma intenção de manter qualquer fama de mau.
Ele ainda acrescenta que a ideia para o espetáculo surgiu em 2011, quando resolveu pedir a mão da então namorada, hoje esposa Letícia, em casamento no palco. Então, preparou o show Noite do Rei, que rolou no Theatro São Pedro. Na última música, Cama e Mesa, fez o anúncio da proposta matrimonial, surpreendendo a todos, inclusive os mais próximos.
— Nem a banda sabia. O Theatro São Pedro meio que implodiu com aquilo — conta o artista, conhecido por muitos como embaixador da chalaça, complementando que uma das lembranças mais remotas dos ídolos remonta a seus cerca de nove anos, quando cantava os versos: "Eu quero ser seu tom, me esfregar na sua boca, ser o seu batom", sem muita noção do significado daquelas palavras.
O enlace, inclusive, rendeu fruto afeito aos ícones da Jovem Guarda: Lito, filho do casal, deve fazer uma participação na apresentação de domingo cantando Pega na Mentira.
Outros episódios envolvendo a obra do Rei e do Tremendão reforçaram a crença de Malenotti na dupla, que considera como nomes que traduziram no Brasil o rock que ganhava espaço no Exterior entre os anos 1960 e 1970. Um deles foi quando, no fim dos anos 1990, o Acústicos & Valvulados foi chamado para participar de um programa da MTV Brasil com uma faixa em português, e, até então, só tinha composições em inglês. Foi aí que resolveram fazer uma releitura de Minha Fama de Mau.
— Essa canção foi determinante para o Acústicos largar as referências gringas — confessa, lembrando ainda que obteve aprovação oficial para regravar outros cinco temas da dupla:
— E quem trabalha com eles diz que nenhuma versão é autorizada sem passar pelos próprios Roberto e Erasmo. É preciso dar um jeito, meu amigo.
Logo depois da primeira edição do projeto, Malenotti percebeu que poderia estar cometendo uma injustiça com os músicos que se dizem amigos de fé, irmãos camaradas. Por isso, resolveu alterar o nome da iniciativa de Noite do Rei para Tremenda Noite do Rei.
— Me dei conta de que a obra do Roberto tem essa importância toda muito pela parceria com o Erasmo. Costumam colocar o Roberto em um patamar, e o Erasmo uma prateleira abaixo. Mas são dois lados da mesma moeda — avalia, sem grilos.
Malenotti sabe que essas questões envolvendo a carreira dos músicos é tão sinuosa quanto as curvas da estrada de Santos, mas garante que, nas oportunidades que encontrou os ídolos, ambos foram receptivos.
— No último show do Erasmo em Porto Alegre, em novembro, também no Araújo, falei com ele novamente e levei o cartaz do Tremenda Noite do Rei. Ele assinou na parte onde tem minha cara: "E aí, Cebola, você também vai fazer oitentinha, viu". Foi uma autorização e uma bênção — diz.
Das experiências presenciais com Roberto, o artista gaúcho também guarda boas histórias. Segundo ele, o primeiro encontro foi em 2001, quando o Rei gravou sua versão para a série Acústico MTV - trabalho fora de catálogo por questões legais.
— Quando ele jogou as rosas, eu voei para pegar. Parecia o áudio aquele do Galvão (Bueno): "vai que é tua, Taffarel!" — brinca o colorado inveterado.
E se você pensa que acabou, tem mais, já que Malenotti teve a chance de falar com Roberto no camarim:
— Tinha um monte de músicos, a Marisa Monte tremia, pois até então ela não tinha encontrado o Rei. Eu também estava que nem criança, bem fã. Quando cheguei perto, ele disse (imita os trejeitos da fala de Roberto): "Bicho, eu vi que você estava bem emocionado".
Para a retomada do show Tremenda Noite do Rei, tocado pela última vez em 2018, Malenotti diz que o repertório foi escolhido por todos os 11 músicos envolvidos, com 20 temas, tanto de Roberto quanto de Erasmo. Entre os detalhes do evento que podem passar despercebidos, ele reforça a arrecadação de alimentos e brinquedos que serão doados para a Seleção do Bem, projeto social do veterano capitão Dunga.
— E crianças até 10 anos entram de graça. Já estive do outro lado o balcão, sei da importância dessa sementinha plantada no inconsciente deles. Se uma dessas crianças tomar o rumo da música e tiver a mesma alegria que eu, fiz meu papel — declara Malenotti, ao melhor estilo é preciso saber viver.
Em abril de 2021, Malenotti lançou vídeos para releituras Pega na Mentira e de As Curvas da Estrada de Santos, ao vivo. Para 2022, deve ser lançado uma versão digital de todo o repertório do show.
Serviço
Rafael Malenotti com o show Tremenda Noite do Rei
- Quando: Domingo (19), às 19h
- Onde: Auditório Araújo Vianna (Parque Farroupilha, 685).
- Ingressos: No site sympla.com.br. Alta lateral: entre R$ 35 e R$ 70. Alta central: entre R$ 45 e R$ 90. Baixa lateral: entre R$ 55 e R$ 110. Baixa central: entre R$ 65 e R$ 130. Plateia gold: entre R$ 75 e R$ 150.