De novos romances à dor de cotovelo, nove músicas para contar uma saga de amor. O músico porto-alegrense Cláudio Levitan lançou na sexta-feira nas plataformas digitais o álbum de piano e voz intitulado Só a Canção, com referência musical de Viagem de Inverno, de Franz Schubert. Na equipe, Fernando Corona toca as teclas do instrumento, enquanto Fernando Pezão faz a produção executiva da obra. Gutcha Ramil, Carina Levitan e Nina Nicolaiewsky completam o time de músicos que participaram do CD.
— Meu foco eram canções simples que trabalhassem esse tema. Quando a gente compõe, fazemos isso sobre coisas do cotidiano, quase como um cronista — explica Levitan.
Todas as semanas, será lançado o clipe de uma faixa do álbum. Hoje, já é possível conferir as produções audiovisuais de Nada Além, Canção Band-Aid e Coquelicot.
Europa
Só a Canção começou a ser escrito antes da viagem que o artista fez a Hamburgo, para visitar sua irmã, Liane Moeller, e a Londres, para ver seu filho, Lucas Levitan. A saída em si, avalia o músico, não foi um dos maiores enfoques de inspiração para o álbum. Na verdade, ele explica que ir à Europa o possibilitou fazer um mergulho interno para, então, destrinchar as composições. Ainda assim, interferiu no processo de produção, uma vez que o artista passou a escrever mais em inglês.
Na época, Lucas residia em um local que ficava perto de um pub com microfone aberto, onde músicos podiam apresentar suas canções e, com isso, o artista aproveitou para testar quais composições tinham uma universalidade maior.
— Eles têm admiração pela musicalidade do nosso idioma e preferiam que a gente cantasse em português — conta ele.
Além das duas línguas, o CD também conta com um título em alemão: Der Wunderstern, que traduz para “a estrela milagrosa”. Mesmo sem falar o idioma, Levitan escolheu esta música para nortear o álbum, que se apresenta como uma homenagem ao seu avô, sua mãe e suas tias.
Johann Ekke, conta o músico, era um protestante que fugiu das perseguições religiosas stalinistas depois de ser levado de Armavir à Sibéria. Queria voltar para a Alemanha, onde nasceu, mas o nazismo já crescia no país. Com isso, decidiu estabelecer-se no Brasil em 1927, criando uma família movida pela música — Levitan recorda-se das cantorias que ouvia dentro de casa. Der Wunderstern nada mais é do que o poema de Ekke escrito para a tia do gaúcho, Elsa Schmoldt, um elogio por ela “ser uma estrela que veio espalhar boas novas ao mundo”. Elsa também foi a responsável por ensinar técnica vocal a Levitan, que anos mais tarde transformou a obra em música por ocasião do casamento de sua sobrinha.
– Eu fiz uma parceria com meu avô. Ele fez o poema antes de eu nascer, não está comigo desde os meus cinco anos. Eu nasci porque eles fugiram, essa canção é uma homenagem àqueles que me ensinaram música – explica.
Guerras
Esta não é a primeira vez que ele transformou a própria história familiar em arte. A letra de Minha Longa Milonga também é uma homenagem para seu pai e seus tios e avós.
— Nós somos consequência das guerras e vamos continuar sendo, enquanto o homem não parar de ser... Talvez eu seja meio simplório, mas é aquela coisa machista da brutalidade, do grito pela violência, e é nesse todo que o lado sensível de arte, poesia e ser humano é esquecido. Essa é a batalha que a gente tem para elevar às pessoas a um nível superior de compreensão, sem divisões — reflete.
“Minha canção vacina / Minha canção aspirina / É como mão de mãe que afaga / Ou voz de pai que vem dos corredores”.
O estribilho de Canção Band-Aid é o responsável pelo título do álbum. Mesmo tendo sido iniciado em 2015, o projeto foi trabalhado aos poucos, até que, em 2019, Levitan convidou Corona para fazer os arranjos para o CD. O lançamento estava marcado para maio do ano seguinte, mas foi adiado assim como tantas outras iniciativas culturais por conta da covid-19. Com um tom quase premonitório, por mencionar “vacina” logo na primeira frase, Só a Canção relembra, acima de tudo, o acalento que a música é capaz de trazer.