Nem só de unanimidade vive um rei. A seguir, relembre algumas controvérsias recentes que envolveram o nome de Roberto Carlos, que completa 80 anos nesta segunda-feira (19).
A biografia e o debate no STF
Em 2007, o livro Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo Cesar de Araújo, foi recolhido das prateleiras das livrarias brasileiras depois de uma ação movida pelo cantor. A obra era uma biografia não autorizada sobre o cantor. Essa batalha judicial é contada no livro O Réu e o Rei: Minha História com Roberto Carlos, em Detalhes (2014).
Araújo não foi caso isolado: Roberto Carlos sempre foi muito protecionista com sua própria história, recorrendo aos tribunais: em 1979, foi vetada a venda de O Rei e Eu, escrito por seu ex-mordomo, Nichollas Mariano, com auxílio do editor Roberto Goldkorn; em 1983, processou o escritor Ruy Castro por causa de um perfil íntimo publicado na revista Status; em 2013, entrou com ação judicial para impedir que sua imagem fosse utilizada no livro Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude, fruto de um trabalho acadêmico de Maíra Zimmermann.
Em 2013, Roberto Carlos e outros artistas importantes lançaram o movimento Procure Saber, que tinha como intenção debater a questão. Dias depois, Roberto saiu do grupo por discordar da maneira como as coisas estavam sendo conduzidas. Em 2014, o Rei entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para que possa participar das discussões do processo de publicação de biografias no Brasil. No ano seguinte, o STF votou pelo fim da autorização prévia para a publicação de biografias.
Vegetariano, pero no mucho
Publicamente vegetariano, Roberto Carlos teve de abrir mão deste princípio em 2014, quando foi contratado pela Friboi, empresa de carnes, para um comercial de TV. No vídeo, ele aparece trocando um prato de massa por um bife. "Não, não, o meu prato é aquele ali", diz o Rei, apontando para o bife, para logo depois confirmar que voltou a comer carne. "Eu voltei", diz o músico, ao som da famosa música que conta com o verso. Relembre a repercussão do caso.
Processos contra xarás
Roberto Carlos processou corretores imobiliários mais de uma vez. Ele entrou em 2014, por meio da Editora Musical Amigos LTDA, com processo na 15ª Vara Cível de São Paulo contra Roberto Carlos Vieira. O motivo? Queria que o corretor de imóveis retirasse seu nome da imobiliária da qual ele é proprietário, em Vila Velha, no Espírito Santo. O estabelecimento se chamava Roberto Carlos Imóveis.
O corretor acabou vencendo o processo em 2016, mas já havia alterado o nome do empreendimento para Imobiliária Glória. "Se eu continuasse usando Roberto Carlos Imóveis eu poderia ser multado em R$ 1 mil por dia", contou o empresário ao UOL na época. "O que eu posso fazer se eu tenho esse nome desde que eu nasci?".
A batalha judicial foi péssima para Vieira, que relatou ao site ter tido uma perda muito grande. "Minha atividade profissional praticamente parou nesses dois anos, e me endividei. Tirei meus filhos da escola particular, minha mulher está com câncer e entrou em depressão", lamentou em 2016. "Você percebe o efeito psicológico que essa ação na Justiça me causou? Além desta exposição na imprensa, com todos sabendo sobre a minha vida", finalizou.
Também em 2014, o cantor entrou com processo contra outro corretor de imóveis, desta vez de Conde (PB). O alvo foi Roberto Carlos Dantas, dono de uma imobiliária, que desde 2009 levava o seu nome. O empresário paraibano recorreu, e o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu em dezembro de 2015 que a ação movida era improcedente e que o nome "Roberto Carlos" não estava sendo usado de forma indevida. O cantor ainda foi condenado a pagar as custas processuais.
O caso foi parar no Superior Tribunal de Justiça (STJ), com relatoria do ministro Ricardo Villas Bôas Cuevas. O relator negou no dia 23 de março deste ano o recurso apresentado pela Editora Musical Amigos, que detém os direitos de propriedade intelectual da marca do cantor.
Segundo o acórdão do TJ-SP, a empresa do cantor justifica que é detentora da marca "Roberto Carlos" desde 1982 e que o artista também possui empresa no segmento imobiliário. Roberto é dono de uma incorporadora imobiliária, batizada de Emoções Incorporadora, que investe nas construções de apartamentos e escritórios em todo o Brasil. De qualquer maneira, em uma rápida pesquisa no Google, é possível achar outros empreendimentos que levam o mesmo nome do cantor.
A delicada relação com o poder
Uma crítica histórica a Roberto Carlos é sobre ele nunca ter se posicionado contra a ditadura. Ao longo de sua trajetória, o cantor sempre procurou evitar se envolver com questões políticas. Embora nunca tenha falado claramente a favor, Roberto era próximo do regime militar, que o condecorou em duas ocasiões: em 1973, recebeu a Medalha do Pacificador das mãos do general Humberto de Souza Mello (honraria concedida a quem contribui com o Exército); em 1976, o presidente Ernesto Geisel concedeu a Roberto Carlos a Ordem do Rio Branco.
A música que Roberto Carlos cantava era indiferente à situação política do país: não havia crítica nem exaltação à ditadura. Uma exceção pode ser Debaixo dos Caracóis dos seus Cabelos, que fala sobre Caetano Veloso no exílio. Lançada no disco de 1971, o significado dessa música só seria revelado anos mais tarde.
Roberto cantaria nas Olimpíadas do Exército em 1971 e 1972. Em 1976, ele aceitou um cargo no Conselho Nacional do Direito Autoral, onde ficou por três anos.
Fora do Brasil, houve também um episódio marcante: em 1975, o ditador chileno Augusto Pinochet assistiu ao show de Roberto no festival de Viña del Mar. Antes de começar a apresentação, o artista fez um agradecimento ao então presidente do Chile. Durante os 17 anos de mandato de Pinochet, estima-se que houve cerca de 3 mil mortes e mais de 40 mil torturados no país.
De qualquer maneira, Roberto sempre foi comedido quando o assunto é política. Em 2002, o então presidente Fernando Henrique Cardoso entregou ao cantor a medalha da Ordem Nacional do Mérito Cultural. Na ocasião, ele elogiou FHC.
Em 2011, o artista avaliou que o governo de Dilma Rousseff "estava indo bem" em coletiva de imprensa realizada em Jerusalém, em Israel. Mas em 2015, nos bastidores de um show que realizou no Rio de Janeiro, ele saiu de cima do muro ao ser questionado por jornalistas sobre a sua opinião quanto à possibilidade de impeachment da presidente. Segundo informações da coluna Gente Boa, do jornal O Globo, Roberto afirmou que era "inadmissível o que estava acontecendo no Brasil".
"Não me meto muito em negócio de política, mas pode ter certeza de que estou sofrendo tanto quanto todo mundo. Sinto também essa insatisfação, esse aborrecimento com essas coisas absurdas e inadmissíveis que estão acontecendo no Brasil. Todo mundo enrolando no poder. A gente fica esperando e não acontece nada. Não entendo de política o suficiente para saber se impeachment é solução, mas tem que resolver de alguma forma: ou impeachment ou outra coisa", declarou Roberto na ocasião.
Em 2019, Roberto demonstrou apoio ao então Ministro da Justiça, Sergio Moro, durante um show em Curitiba.
— É um privilégio receber nessa plateia um cara que eu admiro e respeito por tudo o que ele tem feito por nós, pelo nosso país. Estou falando de Sergio Moro — celebrou o cantor.
Meses depois, em abril de 2020, Moro deixaria o governo acusando o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal.
Em fevereiro de 2020, Roberto defendeu Bolsonaro em coletiva de imprensa. Ou, pelo menos, se mostrou otimista. Ao ser questionado sobre o governo, ele opinou:
— Acho que o Bolsonaro é muito bem-intencionado. Ele tem tido muita dificuldade com o pessoal em volta dele. Mas acho ele bom e já tem conseguido algumas coisas. Vamos torcer pelo país, que está na mão dele.